Se antes os brasileiros se trancavam em casa enquanto o crime dominava as ruas, agora nem mesmo o lar é garantia de segurança. Em João Pessoa, moradores de condomínios populares estão sendo expulsos de seus próprios apartamentos por traficantes, que transformam os imóveis em moeda de lucro e poder.
A escalada da violência urbana, alimentada por uma legislação branda e pela política de desencarceramento do governo federal, chegou ao ponto em que o crime organizado não apenas domina territórios — ele os administra.
‘Imobiliária do crime’: facções tomam conta de condomínios
Na manhã desta sexta-feira (25), a Polícia Civil da Paraíba deflagrou uma operação nos condomínios Canaã e São Rafael, no Bairro das Indústrias, em João Pessoa. O alvo: uma facção criminosa que expulsava moradores para alugar ilegalmente os imóveis e usá-los como pontos de tráfico de drogas.
Segundo o delegado Alan Terruel, os criminosos intimidavam, ameaçavam e até agrediam fisicamente os moradores que se recusavam a colaborar com o tráfico. Muitos dos apartamentos eram financiados legalmente por bancos, mas acabavam sendo tomados à força. Os imóveis então eram sublocados por intermediários, como corretores de fachada, e os lucros revertidos diretamente para o tráfico.
Durante a operação, foram cumpridos 10 mandados de busca e apreensão, com apreensão de drogas, celulares, balanças de precisão e documentos que agora passam por análise.
A escalada da violência: do domínio territorial à expropriação residencial
O caso de João Pessoa é mais um capítulo de uma crise nacional de segurança pública, onde o crime organizado avança sobre espaços antes considerados invioláveis. A infiltração de facções em condomínios populares revela uma nova estratégia: transformar moradia em ativo criminoso, seja para armazenar entorpecentes, seja para gerar renda com aluguéis ilegais.
Esse fenômeno é estimulado por:
– Leis penais ultrapassadas, que não acompanham a sofisticação das quadrilhas.
– Políticas de desencarceramento, que colocam de volta nas ruas lideranças criminosas.
– Ausência de fiscalização eficaz em programas habitacionais e no mercado de aluguel informal.
Medo e impotência: o impacto na vida dos moradores
Para as famílias atingidas, o impacto é devastador. Além da perda do lar, há o trauma de viver sob ameaça constante. Muitos não denunciam por medo de represálias, e os que resistem são forçados a abandonar tudo. O delegado Terruel reforça o apelo para que vítimas entrem em contato com o Disque Denúncia 197, com garantia de sigilo absoluto.
Um alerta nacional
O caso de João Pessoa não é isolado. Em diversas cidades brasileiras, o crime organizado já atua como gestor informal de territórios, impondo regras, cobrando taxas e agora, tomando posse de imóveis. A pergunta que fica é: até quando o Estado permitirá que o crime dite onde e como o cidadão pode viver?