O navio Spiridon II, de bandeira de Togo e construído em 1973, partiu de Montevidéu em 19 de setembro com destino ao porto de Bandirma, na Turquia. Levava 2.901 vacas prenhes e bezerros destinados à engorda e reprodução. Mas, ao chegar em 22 de outubro, foi impedido de descarregar: fiscais turcos identificaram que 469 animais estavam sem os brincos ou chips eletrônicos obrigatórios, travando a operação.
Desde então, o cargueiro ficou à deriva por quase dois meses, em condições descritas como insalubres: superlotação, ventilação precária, falta de ração e água. Relatos apontam que ao menos 58 vacas já morreram e mais de 140 bezerros nasceram em meio à sujeira, com mínima chance de sobrevivência.
‘Viagem de morte’
Após semanas de impasse diplomático entre Uruguai e Turquia, o navio recebeu suprimentos emergenciais e iniciou a viagem de retorno. A chegada a Montevidéu está prevista para 14 de dezembro, após mais um mês de travessia. Para a Animal Welfare Foundation, trata-se de uma “viagem de morte”: a maioria dos animais não deve resistir até o desembarque.
Metade do rebanho está prenha, e veterinários alertam que os abortos são quase inevitáveis devido às condições anti-higiênicas. A tripulação também enfrenta precariedade, sem treinamento para lidar com animais moribundos. Há receio de que os cadáveres sejam lançados ao mar, prática difícil de monitorar.
Falha sistêmica
O Spiridon II já acumulava mais de 80 deficiências documentadas em inspeções anteriores, expondo a fragilidade da fiscalização internacional. Organizações de proteção animal denunciam que este não é um caso isolado, mas sim um retrato de uma falha sistêmica na exportação de animais vivos por via marítima, que expõe milhares de animais a jornadas cruéis e intermináveis.
Comoção internacional
Imagens divulgadas pela ONG Animal Welfare Foundation mostram vacas exaustas, em meio à sujeira e ao calor sufocante. O episódio gerou comoção internacional.
