A espetacularização da tragédia

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Análise, por Jefferson Lemos

A tragédia das chuvas se repetiu mais uma vez. A mobilização das autoridades se mostrou pouco eficaz diante da falta de infraestrutura adequada nas cidades para lidar com eventos climáticos extremos. Governo estadual e prefeituras decretaram ponto facultativo, pediram para que as pessoas ficassem em casa, mobilizaram efetivos e equipamentos, mas não conseguiram impedir que as chuvas deixassem para trás vários mortos e um rastro de destruição, como das outras vezes.

O esforço político-midiático das autoridades, com o anúncio antecipado das chuvas que estavam por vir e das medidas urgentemente tomadas não substituem os investimentos em infraestrutura que já deveriam ter sido feitos ao longo das últimas décadas. Serviu apenas para espetacularizar a tragédia anunciada em torno de ganhos eleitoreiros, como se pudesse esconder o trabalho de prevenção que deixou de ser realizado.

Ano após ano se fala do que foi feito e o que falta fazer para evitar mais tragédias causadas por chuvas. Mas nada, ou quase nada se faz. Ou se é feito não parece surtir efeito, já que as tragédias se repetem ano após ano.

Especialistas já apontaram que a falta de planejamento urbano é a principal causa das tragédias causadas pelas chuvas e que medidas como permeabilização das cidades, hoje tomadas pelo concreto, são essenciais, ainda mais quando aliadas à criação de grandes espaços verdes, como parques e locais com vegetação rasteira, gramados, jardins e arbustos.

Também não se pode descuidar da desobstrução de bueiros, do desassoreamento dos rios e da recuperação de suas matas ciliares, da contenção de encostas e, principalmente, do remanejamento de pessoas que vivem em áreas de risco para zonas seguras através de políticas habitacionais.

No caso específico de Petropolis, a cidade vem sofrendo nos últimos 50 anos com o processo de ocupação irregular de encostas que sempre acabará em tragédia. Afinal, dificilmente um chefe do Executivo municipal terá coragem de tomar atitudes impopulares, mas necessárias para proteger a população, como por exemplo, remover moradores de encostas para áreas onde não ocorra este tipo de risco.

As últimas chuvas já mataram quatro pessoas na cidade. E há previsão de mais tempestades. O município decretou estado de emergência.

Há pouco mais de dois anos, 242 pessoas morreram na cidade também em função das chuvas, numa das maiores tragédias ocorridas no município, que parece não ter aprendido a lição.

Infelizmente, hoje mais se investe em sistemas de alertas e sirenes para áreas de risco, uma alternativa importante, porém paliativa, incapaz de colocar fim no risco de novas tragédias. Apenas ficar em casa só paralisa a economia e reduz a arrecadação. E sem dinheiro em caixa, aí mesmo que as tão necessárias obras não saírão do papel.

* imagem Tânia Rego/EBC

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