Por Jefferson Lemos
O fim da jornada de trabalho de seis dias trabalhados por um dia de descanso ganhou destaque nas redes sociais nos últimos dias. A proposta figura entre os assuntos mais discutidos na rede social X, antigo Twitter, assim como nos botequins.
Porém, mais do que uma questão trabalhista, o tema surge como parte do aquecimento para o jogo eleitoral de 2026.
Após as recentes derrotas nas urnas, a esquerda percebeu que insistir em pautas identitárias como substituir “todos” por “todes” não muda a vida de ninguém. É como bola na trave.
Partiu, então, para um ataque mais pragmático, na tentativa de se reconectar com sua base e cair nas graças da torcida.
E surgiu na área com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que reduz a jornada de trabalho, prestes a fazer um gol de placa, como quem diz “Tô na área, se derrubar é pênalti”.
Até mesmo alguns deputados da bancada do PL, contrários à iniciativa, sentiram a “pressão da torcida da internet” e já se manifestaram favoráveis à redução da jornada de trabalho 6×1.
A PEC já conseguiu o apoio de 194 deputados federais, mais do que os 171 necessários para ser protocolada na Câmara dos Deputados. A prévia foi revelada nesta quarta (13) pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), autora da proposta e parlamentar responsável por recolher as assinaturas.
A redução da jornada de trabalho no Brasil é uma demanda histórica de centrais sindicais como a CUT.
Mas no outro time, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) já avisou que a imposição de uma redução da jornada, sem a correspondente redução de salários, implicará diretamente no aumento dos custos operacionais das empresas.
De um lado do campo, trabalhadores querem trabalhar menos. Do outro, as empresas não querem aceitar menos trabalho pelo mesmo salário, ou seja, pagar mais por menos produção.
Economistas que se apresentam para comentar a peleja alertam que a pura e simples redução das escalas de serviço, sem a devida apresentação da chamada “fonte de custeio” deve gerar inflação, desemprego e informalidade.
Afinal, ninguém acredita que os custos de novas contratações ou de horas extras deixarão de ser repassados para os preços ao consumidor.
Diversos projetos para substituir artigos da Constituição ou da CLT foram apresentados ao longo das últimas décadas. Alguns até avançaram, mas não chegaram a ser aprovados.
Também parece consenso que após o apito final, o resultado do jogo pode ser ruim para o patrão e para o empregado, assim como para toda a sociedade.
Ninguém é contra a redução da jornada de trabalho, mas se não houver contrapartidas como o controle dos gastos públicos e a desoneração do setor produtivo, que não estão na pauta de discussões do Congresso, esta redução promete lançar o país no caos econômico.
A esquerda parece saber disso e teme fazer gol contra, mergulhando o governo Lula num abismo mais profundo do que o enfrentado por Dilma Rousseff.
O próprio ministro do Trabalho, Luiz Marinho, acenou que a redução da jornada de trabalho deveria ser tratada por convenções e acordos coletivos de trabalho.
Na prática, tanto a direita quanto a esquerda devem deixar seus times de lado e vestir a mesma camisa verde e amarela, pelo menos por hora. Afinal, pode dar zebra aprovar a PEC na base da pressa e da correria, sem que antes ocorra uma ampla e demorada discussão.
A eleição de 2026 é uma caixinha de surpresas. Mas é dado como certo que a esquerda continue levantando a bola da redução da jornada de trabalho até a véspera do próximo pleito. A estratégia do jogo é convencer boa parte dos eleitores do outro time a virar a casaca.