A Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira (2) a Operação Intolerans contra suspeitos de ataques cibernéticos a deputados favoráveis ao chamado PL Antiaborto. Os alvos foram parlamentares como Sóstenes Cavalcante, Alexandre Ramagem e Bia Kicis, todos do PL, em meio a uma disputa acirrada de narrativas entre direita e esquerda nas redes sociais.
Ataques digitais em meio à guerra de narrativas
A ofensiva hacker ocorreu em junho de 2024, quando o projeto de lei 1904/24 — que equipara o aborto realizado após 22 semanas de gestação ao crime de homicídio — foi aprovado em regime de urgência na Câmara. Enquanto parlamentares da direita defendiam o endurecimento das penas e do direito à vida dos bebês de até nove meses de gestação que podiam ser mortos sob o amparo legal, setores progressistas alegaram retrocesso nos direitos das mulheres.
Segundo a PF, os ataques foram do tipo negação de serviço (DDoS), que sobrecarregam servidores até derrubar páginas. Sites de deputados como Bia Kicis (PL-DF), Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Alexandre Ramagem (PL-RJ) e Paulo Bilynskyj (PL-SP) ficaram fora do ar em momentos cruciais da discussão legislativa. Outros parlamentares, como Júlia Zanatta (PL-SC) e Greyce Elias (Avante-MG), também relataram incidentes. Posteriormente, o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, confirmou ter sido alvo.
Operação Intolerans e cooperação internacional
A operação cumpriu dois mandados de busca e apreensão em São Paulo e Curitiba, com apoio de autoridades estrangeiras por meio de cooperação jurídica internacional. A PF apura se a organização criminosa responsável pelos ataques também atuou em outras ofensivas digitais contra autoridades e instituições públicas.
O projeto que paralisou a Câmara
O PL Antiaborto previa penas de 6 a 20 anos de prisão para quem realizasse ou consentisse aborto após 22 semanas, mesmo em casos de estupro. A proposta não alterava as exceções já previstas em lei — risco à vida da gestante ou anencefalia. A pressão nas redes sociais alavancada pela narrativa da esquerda levaram o então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a recuar e anunciar que o tema seria debatido em comissão específica. Desde então, o projeto permanece paralisado, sem avanço sob a gestão de Hugo Motta (Republicanos-PB).
Polarização e impacto político
Os ataques digitais ampliaram a tensão em torno do projeto, transformando o episódio em mais um capítulo da disputa de narrativas entre direita e esquerda. Para a PF, a ofensiva hacker não apenas prejudicou a comunicação institucional dos parlamentares, mas também interferiu diretamente na atuação legislativa durante um dos debates mais polarizados do Congresso nos últimos anos.
