Nas últimas semanas, vídeos publicados no TikTok por supostos fabricantes chineses têm viralizado ao expor uma prática controversa na indústria da moda de luxo: a disparidade entre o custo de produção e os preços exorbitantes cobrados por marcas renomadas.
Os vídeos, que ganharam o apelido de “Trade War TikTok”, mostram supostos bastidores de fábricas chinesas produzindo itens que, segundo os fabricantes, são idênticos ou muito semelhantes aos vendidos por marcas como Hermès, Louis Vuitton e Lululemon.
Um exemplo citado é o da icônica bolsa Birkin, da Hermès, que pode custar até US$ 38 mil no mercado ocidental, mas que, segundo os vídeos, teria um custo de produção entre US$ 1.000 e US$ 1.400.
Outro caso envolve leggings inspiradas nas da Lululemon, fabricadas por menos de US$ 6 e vendidas por até US$ 100 nos Estados Unidos.
Os fabricantes chineses argumentam que a diferença de preço está apenas na etiqueta.
“Mais de 90% do preço de uma bolsa de luxo está no logo. Se você não liga para a marca, pode comprar o mesmo produto conosco por muito menos”, declarou um fornecedor em um dos vídeos mais populares.
A controvérsia do ‘Made in Europe’
Outro ponto levantado pelos vídeos é a prática de enviar produtos fabricados na China para países europeus, onde recebem apenas a etiqueta “Made in Italy” ou “Made in France” após uma etapa final de produção.
Essa prática é permitida pela legislação da União Europeia, desde que a última etapa substancial do processo ocorra nesses países.
No entanto, ela levanta questionamentos sobre a autenticidade e o valor agregado dos produtos.
Marcas como Hermès e Louis Vuitton negam que seus produtos sejam fabricados na China, afirmando que mantêm produção artesanal em países como França e Itália.
A Hermès, por exemplo, garante que suas bolsas são feitas por artesãos altamente qualificados, com materiais exclusivos e processos rigorosos.
Ainda assim, os vídeos têm gerado dúvidas entre consumidores e até alguns especialistas.
Guerra de tarifas
A viralização dos vídeos ocorre em um momento de tensões comerciais entre Estados Unidos e China, com tarifas elevadas sobre produtos importados da China, como parte da estratégia do presidente Donald Trump para reduzir a dependência econômica americana do país asiático.
Em inglês, os vídeos são voltados ao público norte-americano, questionando os altos preços cobrados nos EUA diante de uma alegada produção de baixo custo na China.
Especialistas apontam que a exposição pode impactar negativamente a reputação das marcas de luxo, especialmente entre consumidores mais jovens, que valorizam transparência e autenticidade, mas são altamente manipuláveis.
“Esses vídeos podem parecer apenas barulho agora, mas têm o potencial de remodelar como as pessoas percebem valor, origem e autenticidade”, afirmou Fabio Becheri, consultor especialista em marketing.
Além disso, o fenômeno tem fortalecido o mercado paralelo de produtos de luxo, com consumidores optando por comprar diretamente de fabricantes chineses por meio de plataformas como WeChat e Taobao.
Essa tendência desafia as marcas a repensarem suas estratégias de marketing e a justificarem os altos preços cobrados. As grifes alegam que não vendem apenas um produto físico, mas os símbolos e tendências que suas etiquetas representam, destacando o elaborado processo criativo por trás da produção.
Quanto vale?
A polêmica em torno das fábricas chinesas e das marcas de luxo europeias expõe um dilema central na indústria da moda: o que realmente define o valor de um produto?
Enquanto as marcas defendem a exclusividade e a qualidade de seus processos, os vídeos virais colocam em xeque a transparência e a ética por trás do luxo.
Para os consumidores, a questão vai além do preço: trata-se de entender o que estão comprando, por que estão pagando tanto.