Empresário? Ex-coach? Influenciador digital? Político? Marqueteiro? Maquiavélico? Difícil definir, rotular ou estigmatizar o goiano de 37 anos, Pablo Henrique Costa Marçal.
Por Marcos Melo*
São tantos adjetivos, vícios, virtudes, impressões, configurações, que a mente daqueles que o acompanham acaba por embaralhar, sem concluir um relatório final. Pablo Marçal, como se tornou popularmente conhecido, goza de uma personalidade que transcende as caixinhas sob medida montadas pela claudicância humana, que insiste em etiquetar personalidades, como se fosse possível escanear um produto em permanente atualização.
Além do temperamento incomum, do arranjo intelectual fora dos moldes tradicionais, o aspirante à Prefeitura de São Paulo ainda carrega consigo a quase inexplorada capacidade técnica de tocar corações, mentes, emoções, produzir sensações e arrastar a “presa”, cognitivamente, para onde lhe convier.
Essa habilidade tem raízes profundas e se abastece da sensibilidade relacional e da observação ativa, ou como diria o objeto desta análise: “um drive difícil de instalar em um processador qualquer”. Marçal tem a habilidade invejável de mapear expectativas, frustrações, de preencher anseios, de provocar reações já previstas, de induzir um choque retórico em seus concorrentes, com seu indefinível talento de lidar com o previsível, de saber jogar com o óbvio.
Diante de um cenário político eivado de desnutrição intelectual, o mar fica ainda mais calmo para o hábil marinheiro de mentes. Ouso dizer que Pablo Marçal está longe de usar todo seu arsenal racional pelo simples fato de empreender o uso proporcional, friamente calculado.
Dito isso, volte seus olhos, agora, para a trama política no Rio de Janeiro, na capital fluminense, para ser mais específico. Meio Pablo Marçal, aqui, seria um imperador.
A irreflexão retórica e a inabilidade estratégica dos players políticos que aqui estão, fazem da cena política carioca uma arena onde a disputa ocorre em paralelo à atividade cerebral, à análise sintática e à tradução do desejo “eleitoril”. Essa palavra nem sequer existe, mas ao adicioná-la no contexto, encharca sua interpretação de significado intencional.
As pesquisas que tentam traduzir as intenções de voto na cidade do Rio apontam para uma vitória acachapante do candidato Eduardo Paes, cujo passado político é extenso, sinuoso e vulnerável. Quem ocupa uma prefeitura pela terceira vez – e ainda quer a quarta oportunidade – oferece ao seu oponente uma gama de argumentos. Ainda mais quando seu nome está envolvido em um dos maiores casos de corrupção do mundo, travestido do pseudônimo “nervosinho”, com tudo noticiado pela grande – e velha – mídia.
O principal opositor dessa dinastia que se apossou da Cidade Maravilhosa, nestas eleições municipais, é o candidato Alexandre Ramagem, do PL. Delegado federal, polido, elegante, ereto, com roupas bem passadas, neófito ante a engrenagem feroz que acomete o município.
Se existe nesta candidatura algum perfil que mais se aproxime de entender o enredo desse samba, é Rodrigo Amorim. Sem notoriedade, sem poder bélico, sem autoestima de vencedor. Amorim muito se aproxima do tom necessário para alcançar as notas agudas e audíveis ao eleitor carioca que sofre de hipoacusia moral, vulgo “surdez seguida de falta de vergonha na cara”.
Marçal, por aqui, começaria o debate de havaianas, bem rasteirinha. Mas essa conversa vai longe demais…
- *Marcos Melo é jornalista político e escreveu o artigo a convite do site Coisas da Política