Deputados da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) fizeram uma série de discursos elogiando a ação da polícia durante operação no Complexo de Israel, na Zona Norte do Rio, na manhã desta quinta-feira (24). O confronto com os criminosos terminou com a morte de dois trabalhadores e deixou outros quatro feridos. Os deputados aproveitaram a ocasião para criticar a ADPF 635, que impede as forças de segurança de realizarem operações dentro de comunidades.
O primeiro a usar o microfone foi o deputado Márcio Gualberto (PL), que fez um apelo ao ministro do STF Edson Facchin, para que o magistrado reconsidere sua decisão e acabe com a ADPF 635. O deputado enumerou alguns problemas que surgiram no estado desde a implantação da medida, movida no STF pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), como o surgimento das narcomilícias, o aumento das barricadas em todas as áreas controladas pelos criminosos, o uso de drones lançadores de granadas e o Rio de Janeiro se tornando um local seguro para chefes de organizações criminosas de outros estados. O deputado ressaltou que todos esses dados constam no relatório entregue pelo Conselho Nacional de Justiça e que isso não pode ser ignorado pelo ministro.
“Hoje, nesta manhã, nós vimos surgir mais um fato que não tínhamos: áreas intransponíveis. A polícia abandonou uma operação porque não conseguiu avançar, pois não esperavam o poder bélico com que foram recebidos pelos criminosos”, destacou Gualberto. E acrescentou: “Temos agora o Complexo de Jacarepaguá. Se continuarmos nessa toada, teremos em breve o Complexo da Barra, o Complexo do Leblon, o Complexo de Ipanema, o Complexo de Icaraí. A Alerj está fazendo a sua parte. Não dá para a polícia prender um traficante com quase uma tonelada de cocaína e ele ser solto numa audiência de custódia. Onde nós vamos parar?”, reclamou o deputado.
Antes de concluir, Márcio Gualberto fez um alerta a políticos de todo o país. “O estado do Rio está sendo transformado num grande laboratório experimental. Mas se é um experimento, tem cobaia. E sabe quem são os ratinhos? Somos nós! É isso que está acontecendo no Rio com a ADPF 635. E não se enganem, porque a ADPF 635 vai se estender para todo o país”, concluiu o parlamentar.
Na sequência, o deputado Marcelo Dino (União) endossou o discurso de Márcio Gualberto, afirmando que a polícia precisa de maior liberdade e apoio jurídico para realizar seu trabalho.
“Só a dor gera compreensão. Mas e a dor dessa família, que perdeu um ente querido? A população acuada chorando. E aí eu vou fazer o mesmo apelo do meu amigo, deputado Márcio Gualberto: esta ADPF 635 não cabe no Rio de Janeiro”, bradou o deputado. Antes de encerrar, Marcelo Dino ainda elogiou a ação da PM, afirmando se tratar da melhor polícia do mundo. “Nossos policiais hoje estão acuados, estão com medo, essa é a realidade, porque qualquer coisa que acontece, já querem massacrar nossos policiais. Eu só falo uma coisa: deixa a polícia trabalhar!”, concluiu o parlamentar.
Depois foi a vez de Thiago Gagliasso (PL) criticar a notícia veiculada por um jornal. Na opinião do deputado, a chamada da matéria foi construída intencionalmente para que a população culpe a polícia pelos revezes da operação.
“Para de querer manipular! Se a gente clicar na notícia, dá para ver como a polícia foi recebida na comunidade, com barricadas e alto poder de fogo. É complicado ver uma mídia tão enviesada que critica tanto a polícia”, destacou Gagliasso.
Na sequência, o deputado Filippe Poubel (PL) afirmou que o que se vive hoje no Rio de Janeiro é uma herança maldita de governos anteriores, citando uma fala do presidente Lula de que “seria normal uma pessoa roubar para tomar uma cervejinha”.
“Chegamos agora no caos. É muito fácil apontar o dedo para a polícia, dizendo que o Rio não tem comando”, disse Poubel. O deputado também cobrou mais empenho do prefeito Eduardo Paes, para que use a Guarda Municipal para ajudar na segurança pública dos cidadãos do Rio. “O que tem que acontecer no Brasil é o que aconteceu em El Salvador: bandido tem que ser tratado como bandido”, concluiu Poubel.
Por último, o deputado Rodrigo Amorim (União) fez um gesto de solidariedade às forças de segurança do estado e ao governador Cláudio Castro. “A gente tem um déficit operacional muito grande no quadro da Polícia Civil hoje. E a gente também sabe que o senhor Brenno Carnevale não funcionou na SEOP. Então devolva esse incompetente ao quadro da Civil, porque pelo menos ele vai servir para reforçar o quadro operacional nas ruas”, sugeriu Amorim.
”O momento é de união”, cobra o presidente da Alerj
As explanações foram elogiadas pelo presidente da Casa, deputado Rodrigo Bacellar (União). O parlamentar destacou a necessidade de se deixar de lado bandeiras políticas para ações conjuntas para solucionar a questão da segurança pública no estado do Rio.
“Aqui não tem que ter políticos de direita ou de esquerda. Somos representantes do povo e passou da hora de conversarmos, de chamar na mesa o presidente da República, o ministro da Justiça, o presidente do Senado, o presidente da Câmara, os deputados da Alerj e debater a segurança pública de forma civilizada”, destacou Bacellar.
Em concordância com as avaliações realizadas pelos deputados, Rodrigo Bacellar também teceu críticas. “Com todo o respeito ao ministro Facchin, é muito fácil observar o Rio de Janeiro de dentro de uma sala com ar condicionado em Brasília. Precisa andar pelas ruas, entrar na comunidade do Dona Marta, por exemplo. Se colocar na posição do policial sozinho com um fuzil, cá no asfalto, olhar para cima e ver 50 mil janelas e não saber de onde vem o perigo”, disse.
Para Bacellar, o debate sobre o tema não é mais do governo do estado, mas de todo o país. O deputado também pontuou que a legislação atual está ultrapassada e que precisa ser urgentemente renovada por um corpo de juristas.
“Não importa se o governo do país é do PT e do Rio de Janeiro é do PL. O que importa é um cidadão de bem sair para trabalhar e ser baleado na cabeça. Isso não pode mais acontecer”, concluiu o presidente da Casa.
Ao final, os deputados fizeram um minuto de silêncio pela morte dos dois trabalhadores mortos durante a ação da manhã de hoje no Complexo de Israel, na Zona Norte do Rio.