Pouco tempo depois do papa Francisco considerar a “ideologia de gênero” como o “perigo mais terrível” da atualidade e classificar as cirurgias de redesignação sexual como “ameaças à dignidade humana”, o Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS), um tipo de SUS do Reino Unido, começou a restringir, neste mês, os tratamentos para mudança de gênero de menores de idade. Quase seis mil menores estavam na fila de espera aguardando o início da transição.
A mudança não tem relação direta com o anúncio papal, não foi motivada por religião ou algum argumento espiritual. Foi tomada porque na realidade até hoje não existe comprovação científica de que a mudança de sexo é benéfica para o paciente. Ou seja, é como cloroquina na pandemia de Covid, vingam-se os conservadores.
Com a decisão, a Inglaterra passa a ser o quinto país europeu a limitar medicamentos e acesso à cirurgias pra mudança de sexo não apenas devido à falta de evidências de seus benefícios, mas tambem à preocupação com os danos que podem ser causados a longo prazo. Suécia, Noruega, Dinamarca e Finlândia de alguns anos para cá também começaram a restringir os processos, após surfarem por longo período numa onda de liberalidade.
Na Finlândia, por exemplo, descobriu que muitos pacientes também tinham problemas psicológicos e não eram ajudados por tratamentos hormonais.
Evidências construídas em bases instáveis
A mudança de posicionamento britânico, que nos últimos anos abraçou as causas progressistas, teria sido motivada pela análise de quatro anos divulgada nesta semana pela doutora Hilary Cass, uma pediatra, e por vários outros estudos, que chegaram a conclusão de que para a maioria dos jovens, “um caminho médico não é a melhor maneira de lidar com a angústia relacionada ao gênero”.
Em um editorial publicado recentemente em uma revista médica, a pediatra já havia destacado que a evidência de que os tratamentos de gênero para jovens eram benéficos foi “construída sobre bases instáveis”.
No Reino Unido, o NHS já não está mais oferecendo medicamentos que bloqueiam a puberdade (testosterona e estrogênio), nem agendando cirurgias de resignação de gênero. A não ser no caso de pacientes objetos de pesquisas clínicas.
Fora do ‘SUS’ britânico, no entanto, as diretrizes não se aplicam. Médicos em consultórios particulares, que atendem a uma pequena fração da população, poderão continuar realizando os procedimentos, Mas sem uso de dinheiro público.
*imagem Marcelo Camargo/EBC