“Antes que Aconteça” foi um dos painéis realizados na última quinta-feira (15), no Rio Innovation Week. Coordenado pela deputada federal Soraya Santos, o painel contou com as participações do secretário de Segurança Pública, delegado Victor Carvalho; da modelo e empresária Luiza Brunet; da juíza membro do Conselho Nacional de Justiça, Renata Gil; e da especialista em Representatividade Social Heloísa Aguiar.
Com o objetivo de combater a violência contra a mulher, o programa “Antes que Aconteça”, que deu nome ao painel, prevê, entre outras ações, campanhas educativas, a instalação de Salas Lilás em delegacias, cursos de defesa pessoal para mulheres, monitoramento eletrônico e o incentivo ao empreendedorismo feminino.
“Setenta por cento das mulheres que morrem têm medidas protetivas. O Juiz dava a medida protetiva mas não colocava tornozeleira. Isso ajuda no monitoramento, porque antes de matar, o agressor começa a cercar a casa da vítima”, explicou Soraya Santos na abertura do painel.
“A gente está aqui porque, em cidades como Rio de Janeiro, uma das maiores causas de acionamento do 190 é a violência contra a mulher”, alertou Renata Gil. Para mudar essa situação, a juíza apontou dois caminhos em sua fala: o envolvimento de toda a sociedade e o uso da tecnologia. “Porque tudo o que foi feito até agora não deu certo. A Lei Maria da Penha é a melhor do mundo, mas está faltando que essa mulher tenha um monitoramento adequado quando essa medida protetiva é acionada”, pontuou a conselheira.
Único homem a compor a mesa, Victor Carvalho elogiou o aplicativo Rede Mulher, que já ajudou milhares de vítimas no Rio de Janeiro. Ele destacou o trabalho da polícia no combate à violência contra a mulher e chamou a atenção para uma repetição de padrão nesse tipo de ocorrência. “O grau de solução de crimes de feminicídio hoje é alto, não porque a polícia é muito competente, mas porque o agressor está dentro de casa”, destacou o secretário.
Para ele, não adianta ter uma polícia eficiente que vá identificar e responsabilizar aquele agressor, porque aí o mal já aconteceu. “A nossa preocupação hoje é mudar essa cultura e isso passa pela educação”, enfatizou Carvalho. O secretário também incluiu na mesma condição de vulnerabilidade crianças e idosos e falou sobre a necessidade de uma constante vigília pela sociedade para a proteção dos mais vulneráveis.
Uma das presenças mais aguardadas do evento, Luiza Brunet fez questão de frisar que falaria, não como palestrante, por nunca ter tido uma formação superior, mas como vítima de várias violências que sofreu ao longo de sua vida. “Fui uma menina que nasci na roça, vivenciei violência dentro de casa dos 6 aos 14 anos, me mudei para um subúrbio do Rio de Janeiro onde fui trabalhar como diarista e fui vítima de abuso sexual”, contou a modelo. Emocionada, Luiza reforçou a importância de lutar pelos direitos de todos.
Ela também elogiou a trajetória da ativista Maria da Penha e conclamou as mulheres a compartilharem suas histórias de dor para que outras mulheres possam se sentir representadas. “Estamos pavimentando um caminho sem volta. Quando fiz minha denúncia, eu me tornei uma mulher mais forte”, concluiu Luiza.
Em seguida, foi a vez de Heloísa Aguiar, que lembrou que a Secretaria da Mulher foi criada sobre o apadrinhamento das mulheres que estavam presentes ali no debate. “Tenho nos meus pares grandes parceiras. O Rio de Janeiro foi o primeiro estado signatário ao programa Antes que Aconteça, o que me dá muito orgulho”, afirmou Heloísa. A especialista ainda fez questão de destacar a parceria com a Secretaria de Ciências, Tecnologia e Inovação. “A Secretaria da Mulher faz articulação com todas as secretarias. Mas por que a Secti? Porque sem dados, a gente não consegue planejar nem olhar para o futuro”, explicou. E finalizou sua fala reforçando a importância do trabalho conjunto para que a sociedade possa de fato reduzir e acabar com a violência contra a mulher. “Parece utópico, mas precisamos sonhar juntos”, disse Heloísa.
Ao final, a deputada Soraya Santos lembrou que o “Antes que Aconteça” começa com pessoas ouvindo e entendendo o que está acontecendo. “Temos a responsabilidade social de olhar para quem está do nosso lado”, enfatizou a parlamentar, destacando que a violência contra a mulher não é só o olho roxo, mas a perseguição, o grito, o assédio e tantas outras formas.
Depois de agradecer aos palestrantes, Soraya Santos agradeceu ao público presente que estava naquele momento recebendo a informação e que com certeza multiplicaria o que foi ouvido ali.