Estudantes ou militantes? Ocupação da Uerj deixa universidade em pé de guerra

Jefferson Lemos

A cena acima que mais parece uma rebelião em presídio é na verdade a ocupação do prédio da Uerj no Maracanã, que foi invadido por um grupo de alunos que não aceitam as mudanças promovidas pela direção da Universidade, que incluem cortes de benefícios e mudanças de requisitos para obter bolsas estudantis que haviam sido implantados de forma emergencial durante a pandemia. Assim como criminosos amotinados, estudantes estariam encapuzados e portando “pedaços de madeira, canos e armas brancas”, como relatou a própria universidade através de nota.

Depredação

Os estudantes colocaram faixas de protesto na fachada do prédio reivindicando o fim das mudanças, mas ostentam camisas com a foice e o martelo e bandeiras vermelhas do Movimento Estudantil Popular Revolucionário e da Palestina, como se fossem militantes políticos. Barricadas com mesas, cadeiras, computadores, televisores e outros objetos foram montadas nas portas dos pavilhões para impedir o acesso de funcionários e de outros estudantes que não aderiram ao movimento e querem ter aulas. Devido a piquetes e ameaças as aulas de 26 mil alunos estão suspensas. Segundo a reitora Gulnar Azevedo e Silva, vários equipamentos foram quebrados e paredes foram pichadas durante a ocupação.

Invasão

Nesta quinta (19), a Uerj tentou retomar o prédio, que foi invadido em 26 de julho. em cumprimento a uma ordem judicial, que determinou a desocupação do espaço e a volta das aulas em 24 horas, além do pagamento de multa, em caso de descumprimento da ordem. Na sua decisão, a juíza afirma que vídeos apresentados pela Uerj mostram que o prédio foi ocupado “de forma indevida por alunos e/ou terceiros, impedindo o livre acesso às dependências do Prédio, restando caracterizado o esbulho possessório (tomar um bem de outra pessoa ou ente)”. A magistrada não impediu as manifestações, apenas exigiu que o prédio fosse desocupado para que as  aulas pudessem transcorrer normalmente.

Como esperado, os estudantes não cumpriram a determinação da Justiça e houve uma série de confrontos ao longo do dia entre alunos e seguranças desarmados da universidade durante a tentativa de retirada dos alunos do local.

Confronto

Os agentes foram recebidos com gritos de guerra pelos alunos. Teve empurra-empurra e muita confusão quando os seguranças tentaram desobstruir as portas. Alguns alunos foram arrastados para fora. Um dos manifestantes, com rosto coberto, chegou a pegar uma mangueira de combate a incêndio e, com a ajuda de uma colega, direcionou o jato d’água na direção dos seguranças. A PM foi chamada para dar apoio na parte externa. Bombas de efeito moral foram lançadas e houve novos confrontos.

Violência

Diante das informações de que os alunos estariam com armas brancas, houve determinação para que os seguranças recuassem. A Uerj informou que os alunos agiram com “extrema violência” e que a decisão pelo recuo foi para “garantir a segurança dos agentes patrimoniais”. A universidade comunicou à Justiça que os estudantes não cumpriram a decisão e aguarda manifestação sobre quais providências tomar. A justiça marcou uma audiência para o próximo dia 2 de outubro a fim de mais uma vez discutir a reivindicação feita pelos estudantes.

Benefícios

Com orçamento de R$ 2 bi por ano, a Uerj justificou o corte sob a alegação de que as bolsas de vulnerabilidade foram criadas no contexto excepcional da pandemia, e que seu pagamento foi condicionado à existência de verba no orçamento da universidade.

A universidade também argumenta que os auxílios seguem sendo oferecidos para 9,5 mil estudantes, em um universo de 28 mil. Segundo a Uerj, todos os alunos em situação de vulnerabilidade social continuam sendo atendidos.

O fato é que atualmente os valores pagos pela Uerj aos alunos são maiores do que os benefícios pagos à famílias pelo Governo Federal. Além disso, um estudante que acumular apenas alguns dos benefícios oferecidos pela universidade já terá uma renda maior que a de muitos trabalhadores. Ainda assim, os benefícios são insuficientes para a subsistência dos estudantes, como o salário também é para boa  parte do trabalhador. Logo, como a própria Justiça decidiu,  o direito dos estudantes de se manifestarem é legítimo. Acontece que não é democrático que uma minoria retire o direito de uma maioria que quer assistir as aulas. Ou seja, se boa parte dos alunos decidisse  pela paralisação, não haveria necessidade de ocupação. Afinal, sem estudantes para assisti-las, não haveria aulas.

Confira a a seguir a nota divulgada pela Uerj:

“Os seguranças patrimoniais da Uerj agiram para garantir e tentar realizar a desocupação dos espaços e proteção do patrimônio, conforme orientação da juíza do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. A decisão judicial determinou que os estudantes só poderiam realizar suas manifestações no hall de entrada. Por esse motivo, os seguranças tentaram liberar os outros espaços e entradas alternativas de acesso.

A ação de resistência à desobstrução foi extremamente violenta e tivemos relatos de que os estudantes estavam portando pedaços de madeira, canos e armas brancas. Dessa forma, para garantir a segurança dos agentes patrimoniais, a Universidade decidiu recuar e comunicar à justiça sobre esses atos.”

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Jefferson Lemos é jornalista e, antes de atuar no site Coisas da Política, trabalhou em veículos como O Fluminense, O Globo e O São Gonçalo. Contato: jeffersonlemos@coisasdapolitica.com.br
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