A frase cortante de Lih Lima, mãe de Anna Luiza Lima Brito, de 21 anos, ecoou nas redes sociais como um grito de desespero: “Ela tinha tudo, não precisava disso!” A jovem, que vivia em Eunápolis, no sul da Bahia, foi sequestrada, torturada e brutalmente esquartejada por uma facção criminosa, num crime que chocou o país.

De acordo com a polícia, Anna teria colaborado na emboscada e execução de Matheus Rodrigues de Souza, de 24 anos, ocorrida dois dias antes em um mercado da cidade. Por esse suposto envolvimento, foi considerada “traidora” por membros da mesma facção e assassinada com crueldade. Seu corpo foi encontrado em um terreno baldio, com sinais de tortura, mãos decepadas e um bilhete dentro da boca — uma assinatura macabra do crime organizado.
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Em seu desabafo, Lih expôs não apenas a dor da perda, mas uma ferida social crescente: “Isso que aconteceu com a minha filha é fruto da desobediência, da rebeldia, de achar que é dona do mundo […] Eu sabia que isso não ia terminar bem, mas jamais imaginei algo assim.”

O caso de Anna Luiza se soma a uma série de tragédias que revelam um padrão alarmante: jovens sendo seduzidos por uma cultura que glamouriza o crime, a ostentação rápida e o poder violento. Em músicas, redes sociais e até reality shows, o tráfico muitas vezes é retratado como símbolo de prestígio — um fenômeno que preocupa famílias, educadores e autoridades.
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Alguns artistas têm sido criticados por exaltar facções e estilo de vida criminoso em suas letras, promovendo um imaginário onde armas, drogas e “vida fácil” ganham palco e curtidas. Para muitos jovens em situação vulnerável, isso se torna um convite à tragédia.
Além disso, a política de desencarceramento defendida pelo governo federal tem encontrado forte resistência popular. Uma pesquisa recente indica que a violência se tornou a maior preocupação dos brasileiros no governo Lula, e que a maioria da população rejeita medidas que enfraquecem o sistema de justiça penal.
A guerra de facções que já dominava grandes centros agora avança sobre cidades médias e pequenas, como Eunápolis. E o reflexo é claro: mães enterram seus filhos, famílias são destruídas, e a sociedade segue acuada entre medo e indignação.
A morte de Anna Luiza não é apenas um retrato da violência. É o retrato de uma juventude órfã de políticas eficazes, de referências construtivas, e mergulhada em um cenário onde o crime parece mais acessível que o futuro.