Inclusão produtiva é política de desenvolvimento

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O Brasil tem hoje mais de 2,4 milhões de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), o que representa 1,2% da população, segundo dados do Censo 2022 divulgados pelo IBGE recentemente. O número impõe ao poder público, ao setor produtivo e à sociedade civil um desafio estratégico: garantir que esse grupo tenha acesso efetivo a direitos básicos, como a qualificação e a inserção no mundo do trabalho.

Foi com esse entendimento que a Águas do Rio, concessionária de saneamento que integra o grupo Aegea e atua em 27 cidades fluminenses, adotou um programa bem-sucedido de inclusão profissional voltado para pessoas com TEA. Há um ano, a empresa contratou colaboradores autistas e passou a implementar adaptações estruturais e comportamentais em suas unidades para acolher, de fato, as necessidades desses profissionais.

A proposta faz parte da política de diversidade da Aegea e reflete um movimento cada vez mais necessário: reconhecer o valor social e econômico da inclusão.

“Incluir pessoas autistas no mercado de trabalho vai muito além de uma responsabilidade social, é uma decisão estratégica. São profissionais com habilidades únicas, capazes de trazer inovação e novas perspectivas. Por isso, é fundamental garantir a eles acesso à qualificação e oportunidades reais de desenvolvimento, para que não apenas ocupem uma vaga, mas construam uma trajetória profissional sólida”, afirma Alexandre Bianchini, vice-presidente da Aegea.

Ambientes adaptados, relações transformadas

A implementação do projeto contou com o apoio da consultoria Specialisterne, especializada em inclusão de pessoas neurodivergentes no mercado de trabalho. A partir de um diagnóstico prévio, a Águas do Rio realizou formações com gestores e colaboradores, reconfigurou espaços físicos e ajustou processos internos. Medidas como a criação de áreas silenciosas, o uso de abafadores de som e a permissão para uso de óculos escuros no ambiente corporativo mostraram-se fundamentais.

Os relatos dos profissionais reforçam como ambientes mais acolhedores potencializam a produtividade e o bem-estar:

“Sou mais sensível a estímulos sensoriais, e a constante movimentação das pessoas me afeta bastante. Mas, com os ajustes na empresa, como espaços silenciosos e o uso de abafadores, pude focar melhor nas minhas tarefas. É por isso também que estamos dentro do regime de trabalho híbrido, o que permite que parte da semana seja feita de casa, em um ambiente de conforto psicológico”, relata Pablo Pelegrino, de 30 anos, que atua na Comunicação Social.

Já Irlana Pimentel, de 44 anos, do setor de Recursos Humanos, destaca a importância de respeitar as hipersensibilidades individuais. “Sou hipersensível a luzes fortes, pois me deixam desconfortável e afetam minha concentração. A permissão de usar óculos escuros foi crucial para eu me sentir confortável no trabalho”, explica.

Escutar e acolher

Henrique Lima, de 48 anos, que trabalha na área de Tecnologia da Informação, fala sobre o impacto positivo do acolhimento e da escuta. “É muito importante que os colegas entendam esse desconforto para algumas pessoas autistas. Com o tempo, aprendi a me comunicar melhor sobre isso e usar artifícios, como adotar blusas com mangas compridas”, compartilha.

“É um trabalho de escuta ativa. Entendemos que a inclusão exige mais do que boas intenções. Ela requer planejamento e é nisso que acreditamos”, afirma Nanci Almeida, coordenadora de RH da Águas do Rio.

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