Irmão da prefeita de Guapimirim, Marina Rocha, irmão do vereador guapimiriense Marlon Rocha e filho do ex-vereador da cidade César do Modelo, o deputado estadual Júlio Rocha (Agir) pretende expandir a influência da família para a vizinha Teresópolis nestas eleições, onde pleiteia a cadeira de chefe do Executivo.
A seu favor o pré-candidato tem o fato de ser natural da cidade. Há décadas atrás era comum as famílias de Guapi cruzarem o limite dos municípios para ter filhos em Teresópolis, que oferecia melhores serviços na área de saúde. Foi o caso dos pais de Júlio Rocha. Hoje, no entanto, a situação da saúde na cidade não é a mesma e o movimento é inverso. Situação que o que deputado promete reverter, se for eleito.
Para “voltar às raízes”, Júlio Rocha pretende se aproveitar do conturbado momento político em Teresópolis, que recentemente culminou com o rompimento entre o prefeito Vinícius Claussen (PL) e o presidente da Câmara de Vereadores, Leonardo Vasconcelos (União), que também é pré-candidato a prefeito. A disputa ainda pode contar com o ex-prefeito Mário Tricano e o assessor especial do governador, Alex Castellar.
Eleito para seu primeiro mandato com mais de 30 mil votos, Julio Rocha chegou à Alerj mirando a questão do turismo, mola propulsora da economia da região, mas logo o foco mudou e ele se tornou um dos principais defensores das pessoas com necessidades especiais.
“O nosso tipo de política lá no interior é muito diferente. É focado na proximidade. Mas quando eu cheguei aqui na Alerj eu me apaixonei pela política das pessoas com deficiência”, conta o deputado, autor da Lei 1074/23 que estabelece a Política Estadual de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.
A iniciativa inclui a criação de parcerias público/privadas para a formação de equipes multidisciplinares e garante os mesmos direitos no recebimento do vale social para pessoas autistas e com deficiência, entre outras medidas.
Em entrevista ao site COISAS DA POLÍTICA, Júlio Rocha conta o que o motivou a disputar a prefeitura de Teresópolis.
CP – Sua irmã é natural candidata à reeleição em Guapimirim. Então já era óbvio que o senhor não teria interesse em disputar com ela a prefeitura. Mas por que escolher Teresópolis?
Júlio Rocha – “Hoje em Teresópolis eu encontrei um vácuo. As pesquisas mostram um número muito grande de indecisos e acredito que a população esteja esperando uma terceira via. Não que esta terceira via seja eu, mas estamos nos colocando à disposição para ver se a população vê em mim um perfil para poder resgatar a autoestima, visto que a cidade se encontra em um tremendo abandono”.
CP – Mas sua base eleitoral está em Guapimirim. Como pretende enfrentar a disputa fora de casa?
Julio Rocha – “No ano de 2020 nós montamos uma nominata pelo PMB e conseguimos fazer dois vereadores na época. Minha irmã era deputada estadual e nós pegamos a base de frente de apoio dela. Daí começou nosso processo junto à política de Teresópolis”.
CP – E você vê esta aproximação política como oportunidade de integrar a região?
Julio Rocha – “Sim, a integração é uma das questões mais importantes. E essa integração se dá através do turismo, um dos principais vetores da economia mundial. É uma atividade não poluente. Temos naquela região 70% de APP (Área de Proteção Permanente). Então, não adianta a gente falar que vai levar grandes empresas. A gente tem que trabalhar mesmo com o turismo”.
CP – E qual é a proposta para desenvolver o setor?
Julio Rocha – “Magé tem um turismo religioso muito forte, mas os setores de hotelaria e gastronomia são fracos. Guapimirim tem um turismo ecológico e de aventura muito forte e está começando a caminhar na questão de hotelaria e gastronomia. Já Teresópolis tem gastronomia e hotelaria fortes. Então, as pessoas podem fazer um turismo de passagem em Magé e ficar em Guapi. Fazer turismo de passagem em Magé e Guapi e dormir em Teresópolis. Fazendo essa integração, aproveitando os fatores primordiais de cada cidade, todos saem ganhando.”
CP – Em seus discursos e nas redes sociais você tem dito que Teresópolis precisa de um hospital municipal. Por que tanta ênfase nesta questão?
Julio Rocha – “Você acredita que Teresópolis tem mais de 180 mil habitantes e apesar da receita de quase R$ 1 bilhão não tem hospital municipal? Teresópolis antes era referência em saúde. Hoje as pessoas saem da cidade para se tratar em outros municípios. Existem convênios, e têm que haver, com a faculdade de medicina, com a rede particular. Mas hoje a gente precisa no mínimo de um hospital com mais de 150 leitos”.
CP – Mas os convênios já não atendem a demanda?
Julio Rocha – “Convênio, ele tem que ser um suporte. A gente não tem que depender dele. E hoje Teresópolis é totalmente dependente dos convênios. Se a faculdade hoje fechar as portas, as pessoas não têm onde ser atendidas”.
CP – A saúde pode ser considerada o principal problema de Teresópolis?
Julio Rocha – “Hoje a principal necessidade de Teresópolis é a saúde, sim. A Saúde de Teresópolis está doente. O que a população de Teresópolis tem atualmente é uma pequena UPA para atender mais de 180 mil pessoas”.
CP – Várias cidades têm sofrido com as fortes chuvas, que causam alagamentos e outros problemas. Como resolver a questão?
Júlio Rocha – Não adianta a gente falar que vai acabar com as enchentes em Teresópolis sem antes fazer um estudo para saber quais são as causas. Mas a concessionária que assumiu a responsabilidade pela água e esgoto vai ter que furar, vai ter que esburacar as ruas da cidade. Então, a ideia é aproveitar estas obras para resolver tudo de uma única vez, a questão da água, do esgoto e das enchentes, causando o mínimo de transtorno para a população.”
CP – E quanto aos lixões, um problema que atinge não apenas Teresópolis, mas toda a região?
Júlio Rocha – “Existe uma pareceria entre Teresópolis e os municípios de Magé e Guapi para fazer um consórcio. O certo é ver em que pé está essa parceria e tocá-la adiante, porque também acho que o consórcio é a única solução para o problema”.