‘Petrópolis se tornou a cidade das filas’, diz candidato do PSOL à prefeitura

Jefferson Lemos

Em entrevista exclusiva ao site COISAS DA POLÍTICA, o deputado estadual Yuri Moura, candidato a prefeito de Petrópolis pelo PSOL, disse que o município da Região Serrana se transformou na cidade das filas. Segundo ele, tem “fila no transporte público, fila por vagas em creches, fila do desemprego — é fila para tudo”.

O candidato, porém, diz que a mais urgente de todas é a fila da sáude, que ele considera um dos maiores problemas de Petrópolis.

“Temos uma demanda gigantesca de pessoas aguardando por consultas, exames e cirurgias, com espera de um, dois ou até três anos”, denuncia o candidato, que apresentou suas propostas para a saúde, assim como para outros problemas do município.

Outros candidatos também foram convidados por e-mail  para uma entrevista. Confira a seguir as propostas de Yuri Moura para a cidade de Petrópolis:

COISAS DA POLÍTICA – Ônibus quebrados e engarrafamentos são alguns dos problemas enfrentados pela população no dia a dia ao sair de casa para trabalho ou lazer. O transporte público na cidade tem solução?

YURI MOURA – O transporte público em Petrópolis hoje é sinônimo de ônibus sem freio ou atrasado, quando não são as duas coisas. A gente não quer mais ônibus quebrado, pegando fogo, sem cumprir horário, sem um cobrador e com a tarifa cara. Vemos várias crianças saindo da escola e descendo a ladeira de ônibus, trabalhadores e trabalhadoras tendo que justificar ao patrão o motivo do atraso. O motorista, sem um cobrador para ajudar nas manobras e na sensibilidade, lida com idosos, pessoas com deficiência e mães com filhos, sem garantir a segurança durante a viagem. Enquanto isso, a passagem está cara, o ônibus sem manutenção, e as famílias sem chance de passear no final de semana.

Nos últimos dois anos, a média de ônibus quebrados por dia em Petrópolis é de 30, ou seja, aproximadamente 30 veículos apresentaram falhas diariamente nesse período. Vamos cobrar, fiscalizar e assumir o controle do transporte público, sem deixar nas mãos das empresas a decisão sobre o que fazer com o povo. Elas não podem mandar nas linhas, nos horários, nem decidir até onde os ônibus vão ao final das comunidades, obrigando viagens em veículos sem manutenção e colocando a população em risco.

Assumiremos, de fato, o controle do transporte público.
Apontamos três caminhos para isso. O primeiro é a intervenção completa na Petro Ita, assumindo o controle da empresa para garantir o bom funcionamento do serviço, a manutenção dos empregos, o pagamento de salários e os direitos trabalhistas dos rodoviários, até conseguirmos licitar para que uma nova empresa assuma a operação. O principal é implementar a tarifa zero, que já é uma realidade em mais de 100 cidades e será adotada de forma gradual nas linhas troncais, como os corredores e linhas 100 e 700, nos trajetos interbairros, aos domingos e durante grandes eventos na cidade, para garantir que a população tenha o direito de participar.

Para viabilizar a tarifa zero, vamos criar um fundo que receberá recursos do IPVA. Atualmente, dos quase 200 mil carros emplacados em Petrópolis, 50% do IPVA pago retorna ao município. Além disso, o fundo será composto pelo subsídio que já é pago às empresas de ônibus e pela tarifa paga pelos empresários aos seus trabalhadores. Esses recursos serão direcionados para garantir a gratuidade da passagem.

Por fim, como terceiro ponto, vamos reintegrar os cobradores, o que gerará 600 empregos e contribuirá para a acessibilidade de pessoas com deficiência, idosos e mães com crianças. Importante destacar que o custo do cobrador já está incluso na tarifa, de modo que a medida não gerará novos custos.

COISAS DA POLÍTICA – Atrasada há vários anos, a nova subida da serra é uma das obras mais esperadas pelos moradores da cidade. O valor do pedágio é outro motivo de reclamação. Caso seja eleito, que atitude pretende tomar?

YURI MOURA – Como deputado estadual eleito pela cidade, estou lutando contra a Concer (Concessionária Rio-Juiz de Fora), responsável pelo trecho da BR-040 entre Juiz de Fora e o Rio de Janeiro, que passa por Petrópolis. Iniciamos uma campanha e fomos a Brasília diversas vezes para cobrar ações do Ministério dos Transportes e da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Após uma audiência pública que promovi na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), conseguimos obter da ANTT e do Ministério dos Transportes o entendimento de que é necessária uma nova licitação, ou seja, um novo leilão para que a Concer seja substituída por uma nova empresa. O atual trecho administrado pela Concer é um gargalo para o desenvolvimento econômico, a segurança de quem sobe e desce a Serra — milhares de petropolitanos e petropolitanas todos os dias — e também para o turismo local. Com a saída da Concer, poderemos trabalhar por uma nova subida da Serra, o que já está previsto na nova licitação e foi uma de nossas principais cobranças durante a audiência pública. Essa foi uma conquista que conseguimos aprovar em Brasília.

Como prefeito, pretendo continuar esse trabalho para superar os entraves causados pela Concer e promover o crescimento, desenvolvimento e segurança de Petrópolis.

COISAS DA POLÍTICA – A cidade ainda está longe de estar preparada para as chuvas? Como impedir novas tragédias?

YURI MOURA – Petrópolis precisa deixar de ter medo da chuva, mas, para isso, é fundamental investir em prevenção. Defendemos três caminhos. O primeiro, assim que assumirmos o mandato, caso vençamos a eleição no final de outubro, é preparar Petrópolis para janeiro. Qualquer prefeito que assumir o cargo o fará no verão, por isso é essencial organizar os pontos de apoio e garantir que haverá energia, colchonetes, alimentação, entre outros recursos que faltaram em 2024, quando as chuvas atingiram a cidade em março. É necessário garantir que o plano de contingência funcione e que toda a população esteja mobilizada.

O segundo caminho é lançar um grande pacote de contenção de encostas. Já conseguimos destravar R$70 milhões em Brasília, provenientes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com recursos que a prefeitura já possui e está utilizando para obras. Também vamos buscar mais recursos internacionais, nacionais, estaduais e municipais para ampliar as obras de contenção de encostas nas áreas de risco.

Por fim, vamos investir em melhorias habitacionais, com o apoio de engenheiros e arquitetos populares, em articulação com as comunidades, para realizar mutirões e fornecer doações de materiais de construção. Nosso objetivo é promover pequenas e médias melhorias em casas que podem deixar de ser de alto risco com intervenções como a construção de pequenos muros de contenção, canalização adequada do esgoto e melhorias nas servidões. Essas ações estruturais têm um custo elevado para famílias trabalhadoras, mas a prefeitura pode colaborar com essas intervenções, reduzindo significativamente o risco dessas residências.
Em 2022, dos 15 mil laudos de interdição emitidos, 75% das casas poderiam ser requalificadas com as melhorias habitacionais, reduzindo o risco para os moradores.

COISAS DA POLÍTICA – Na sua opinião, qual o maior problema enfrentado pelo município? E como resolvê-lo, caso seja eleito?

YURI MOURA – Petrópolis se tornou a cidade das filas: fila no transporte público, fila por vagas em creches, fila do desemprego — é fila para tudo. No entanto, a mais urgente é a fila da saúde, que considero um dos maiores problemas atualmente. Temos uma demanda gigantesca de pessoas aguardando por consultas, exames e cirurgias, com espera de um, dois ou até três anos. Por isso, propomos três ações prioritárias.

A primeira é a realização de um grande mutirão, em articulação com hospitais, clínicas públicas e privadas da cidade e da região, para destravar a fila por consultas, exames e cirurgias. A segunda é o investimento maciço na atenção básica. As unidades de saúde, como os postos e a Estratégia de Saúde da Família (ESF), precisam de valorização profissional, equipes completas e a inclusão de atividades como orientação nutricional e física, além de cuidados especializados para gestantes, saúde do homem, saúde da criança, entre outras áreas. A ideia é fortalecer a atenção básica para evitar que as pessoas precisem buscar serviços de média e alta complexidade, como as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), o Hospital Municipal Nelson de Sá Earp, o Hospital Santa Teresa e o Hospital Alcides Carneiro.

Por fim, propomos a criação do Super Centro de Especialidades, uma experiência que já tem mostrado sucesso no Rio de Janeiro. Esse centro permitirá que os pacientes realizem, em um único local, exames de imagem, laboratoriais e outros procedimentos, além de atendimentos com especialistas. Com isso, conseguiremos reduzir o tempo de espera nas filas que diminuiremos com os mutirões e com a atenção básica fortalecida, oferecendo mais celeridade no tratamento das pessoas. O objetivo é ter um governo que promova a saúde de forma proativa, em vez de apenas reagir quando as pessoas já estão doentes.

COISAS DA POLÍTICA – Caso saia vitorioso nas urnas, qual será sua primeira ação assim que assumir a prefeitura?

YURI MOURA – Reitero que, se vencermos a eleição, minha primeira ação será preparar Petrópolis para o mês de janeiro e para o período de chuvas. Torcemos e rezamos para que as chuvas não sejam intensas e não tragam tragédias, mas prometo que Petrópolis estará preparada para qualquer cenário. Após anos de negligência e falta de atenção, o objetivo é mitigar os danos e responder de forma eficaz para salvar vidas. Além disso, nosso compromisso é transformar Petrópolis em um lugar sustentável e resiliente.

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Jefferson Lemos é jornalista e, antes de atuar no site Coisas da Política, trabalhou em veículos como O Fluminense, O Globo e O São Gonçalo. Contato: jeffersonlemos@coisasdapolitica.com.br
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