Em uma operação da Polícia Civil do Ceará, um jovem de 21 anos que atuava como MC foi preso nesta quarta-feira (23), no bairro Messejana, em Fortaleza, sob acusações graves: integrar uma organização criminosa e produzir músicas que fazem apologia explícita ao crime. O artista, que já possuía antecedentes por tráfico de drogas e porte ilegal de arma, utilizava suas redes sociais — com mais de 10 mil seguidores — para divulgar “funk proibidão” exaltando facções criminosas com atuação em pelo menos cinco estados brasileiros.
Violência urbana no Ceará: um retrato alarmante
Não por acaso, o caso do MC preso em Fortaleza ocorre em um estado que figura entre os mais violentos do Brasil. Segundo o recém-divulgado Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025, cidades cearenses como Maranguape, Caucaia e Maracanaú estão entre as 20 mais perigosas do país. Maranguape, por exemplo, lidera o ranking nacional com uma taxa de 79,9 mortes violentas intencionais por 100 mil habitantes, reflexo direto da disputa sangrenta entre facções como o Comando Vermelho (CV) e os Guardiões do Estado (GDE).
Esse cenário evidencia como a narcocultura promovida por certos artistas não é apenas uma questão estética ou de liberdade de expressão, mas sim parte de uma engrenagem que alimenta a violência nas periferias. A música, quando usada como ferramenta de propaganda do crime, contribui para a perpetuação de um ciclo de medo, ostentação e poder paralelo — e os números do anuário mostram que esse ciclo tem consequências letais.
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Influência digital e risco social
– Os vídeos do MC alcançavam cerca de 100 mil visualizações cada, segundo a polícia.
– As letras incitavam a violência, desafiavam decisões judiciais e promoviam criminosos armados.
– Durante a prisão, foram apreendidas joias e celulares que serão analisados para aprofundar as investigações.
Comparação com o caso Oruam no Rio de Janeiro
O caso em Fortaleza ecoa o episódio recente envolvendo o rapper Oruam, filho de Marcinho VP, um dos líderes do Comando Vermelho. Oruam foi preso por associação ao tráfico, resistência, desacato e outros crimes após impedir a apreensão de um menor foragido em sua casa. A polícia o classificou como de “alta periculosidade” e apontou sua atuação como uma extensão da facção.
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A narcocultura e o papel dos bailes funk
– Segundo investigações, bailes funk em comunidades são frequentemente patrocinados por facções como forma de ostentação e propaganda do tráfico.
– É comum a presença de criminosos armados com fuzis nesses eventos, que funcionam como vitrines do poder paralelo.
– A música se torna instrumento de recrutamento e legitimação da violência, criando um ethos faccionado que molda o imaginário de jovens periféricos.
O embate político e cultural
A prisão do MC cearense reacende o debate sobre a glamourização do tráfico e a responsabilidade da arte. Projetos de lei apelidados de “Anti-Oruam” surgiram em diversas capitais, buscando proibir artistas que façam apologia ao crime em eventos públicos. Enquanto setores acadêmicos e da classe artística defendem o funk que faz apologia ao tráfico como expressão legítima da realidade periférica, autoridades alertam para o risco de normalização da criminalidade.
Entre liberdade artística e apologia ao crime
– Especialistas apontam que a arte pode retratar a realidade sem necessariamente promovê-la.
– No entanto, quando há vínculo direto com facções e uso da música como propaganda, o limite entre expressão e crime se torna tênue.
– A ausência de políticas públicas para organizar e legitimar o funk contribui para sua apropriação por grupos criminosos.
Reflexão urgente
O caso do MC preso em Fortaleza não é isolado. Ele é o terceiro cantor detido no Ceará este ano por promover facções em suas músicas. A repetição desses episódios exige uma resposta firme do Estado — não apenas repressiva, mas também cultural e educativa — para impedir que a arte seja sequestrada pelo crime e que jovens sejam seduzidos por uma falsa promessa de poder e ascensão.