Caos no transporte: motoristas param mais de 20 linhas no Rio e empresas acusam Prefeitura de sufocar o setor

Jefferson Lemos

Motoristas, mecânicos e funcionários das Viações Real e Vila Isabel paralisaram mais de 20 linhas de ônibus nesta segunda (22), deixando bairros da Zona Norte, Zona Sul e Centro sem transporte logo no início da manhã. O motivo foi o atraso no pagamento de salários, férias, tíquete-alimentação e FGTS. Segundo o Sindicato dos Rodoviários, os trabalhadores só voltam ao trabalho após todos os funcionários — inclusive administrativos — receberem os valores devidos.

“Os funcionários estão irredutíveis. Vamos tentar um acordo para evitar que a população seja prejudicada”, afirmou o vice-presidente da entidade, José Carlos Sacramento, que já está na empresa Vila Isabel para negociar com a direção um acordo para por fim a paralisação.

Representantes do setor afirmam que a crise não se resume à má gestão interna. Segundo eles, medidas operacionais da Prefeitura do Rio têm impactado diretamente o equilíbrio financeiro das companhias.

Entre os principais pontos de crítica estão a programação considerada impossível de cumprir, o que dificulta o alcance das metas necessárias para receber subsídios; a glosa por falhas nos sistemas de ar-condicionado, que teriam sido instalados pela própria prefeitura sem certificação do Inmetro e apresentam defeitos constantes; e a redução de 20% nas viagens operacionais, afetando diretamente o faturamento das empresas. De acordo com os empresários, essas mudanças agravam a situação de viações que já enfrentavam dificuldades no período pós-pandemia.

São 18 linhas da Viação Real e 6 da Viação Vila Isabel que estão sem rodar na manhã de hoje e que atendem a Zona Norte, Zona Sul e Centro da cidade. Entre as linhas afetadas na Viação Real estão a108, 110, 112, 163, 181, 309, SN309, 315, 460, 462, 463, 472, 538, 553, 585, 955 e 957; e, da Vila Isabel: 163, 222, 432, 433, 439 e 548.

Histórico de greves

A paralisação desta segunda não é um caso isolado. Em agosto e setembro, motoristas das mesmas empresas já haviam interrompido a circulação de linhas por atrasos nos pagamentos, provocando caos nos terminais e deixando milhares de passageiros sem transporte. Agora, em dezembro, o impasse se repete e expõe o colapso do sistema de transporte carioca. No último dia 5, motoristas de ônibus da Transportes Vila Isabel já haviam realizado uma paralisação.

A versão da Prefeitura

A Prefeitura do Rio tem rebatido as críticas e garantiu que o repasse de subsídios aos consórcios está em dia. Para o município, as paralisações são uma questão estritamente entre empregadores e funcionários das companhias de ônibus, sem relação com a gestão pública.

A disputa entre empresas e Prefeitura escancara a fragilidade do transporte público no Rio. Enquanto trabalhadores exigem seus direitos, empresários acusam o poder público de sufocar financeiramente o setor. No meio desse impasse, quem paga a conta é a população, refém de um serviço cada vez mais instável.

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Jefferson Lemos é jornalista e, antes de atuar no site Coisas da Política, trabalhou em veículos como O Fluminense, O Globo e O São Gonçalo. Contato: jeffersonlemos@coisasdapolitica.com.br
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