Violência imposta pelo CV vai muito além dos assassinatos, extorsões e execuções por todo o país, chegando a interferir no resultado das eleições municipais no Nordeste, com intimidação de eleitores e ameaças ao cartório eleitoral
O terrorismo imposto pelo Comando Vermelho (CV) vai muito além dos assassinatos, extorsões e execuções que assolam comunidades dominadas pela facção por todo o país, como mostrou a colunista Mirelle Pinheiro, do Portal Metrópolis, neste fim de semana.
Atuando como um verdadeiro tribunal do tráfico, o grupo criminoso não apenas dita regras sob a ameaça da violência, mas também exerce influência direta sobre o processo democrático, chegando a interferir no resultado das eleições municipais no Ceará.
Uma investigação conduzida pelo Ministério Público do Ceará, em parceria com as forças de segurança do Rio de Janeiro, revelou que a facção impôs seu domínio sobre Santa Quitéria, interior cearense, manipulando o pleito por meio de um esquema brutal de compra de votos, intimidação de eleitores e ameaças ao cartório eleitoral.
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Lideranças do CV, escondidas na Rocinha, Zona Sul do Rio de Janeiro, comandavam à distância essa engrenagem criminosa, garantindo controle sobre a política local, amparadas pela ADPF das Favelas, que restringia as operações das polícias nas comunidades cariocas.
A operação realizada no último sábado, 31 de maio, culminou em mandados de prisão, busca, apreensão e sequestro de bens, desmantelando parte da estrutura do CV, que, mesmo atuando de longe, exerceu forte influência no pleito de 2020.
A apuração teve início a partir de um acordo de colaboração premiada homologado pelo Ministério Público Eleitoral, no âmbito de uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE).
Como consequência, a Justiça determinou a cassação dos mandatos do então prefeito e vice-prefeito eleitos, além da anulação total das eleições no município, reconhecendo o abuso de poder político e econômico operado pela facção.
CV manipulou democracia à distância, beneficiado pela ADPF das Favelas
Enquanto expandia seu domínio político-criminal pelo Nordeste, o Comando Vermelho consolidava seu poderio na Rocinha, transformando a comunidade em um centro estratégico de operações.
A facção se beneficiou das restrições impostas às ações policiais pela ADPF 635, que limitou incursões de segurança pública em territórios dominados por facções, permitindo que o CV fortalecesse suas bases e operasse com maior impunidade.
Sob essa proteção indireta, líderes foragidos encontraram refúgio na comunidade, coordenando uma rede criminosa que não apenas ditava o terror nas favelas do Rio, mas também manipulava a democracia à distância.
Esse esquema escancara a profundidade da influência do crime organizado no país, atingindo não apenas a segurança pública, mas também os pilares fundamentais do Estado democrático.
A revelação desse poderio criminoso reforça a urgência de medidas eficazes para enfrentar facções que, de seus redutos, subvertem leis e instituições para ampliar seu domínio.