Entrevista com Vinícius Benevides (UP), vice de Juliete Pantoja (UP) à prefeitura do Rio

Jefferson Lemos

Encerrando a série exclusiva com os candidatos a vice-prefeito do Rio, o site COISAS DA POLÍTICA publica nesta terça (3) a entrevista com Vinícius Benevides, candidato a vice de Juliete Pantoja em uma chapa puro-sangue do UP.

Vinícius Benevides defende a estatização do transporte público e tarifa zero 

Em entrevista exclusiva ao site COISAS DA POLÍTICA, Vinícius Benevides defende a estatização progressiva do transporte público rumo à tarifa zero, priorizando o metrô e o trem para solucionar o caos no trânsito do Rio. 

Sobre armar a Guarda Municipal, ele disse que se o efetivo armado da polícia até hoje não conseguiu resolver o problema da criminalidade, não será a Guarda que irá resolver. Confira estes e outros assuntos a seguir:

COISAS DA POLÍTICA – Pesquisas mostram que o Rio figura entre as piores cidades do mundo em qualidade de transporte público. Os engarrafamentos são constantes e as pessoas perdem horas no trânsito. Dá para resolver a questão da mobilidade na cidade? A Avenida Brasil tem jeito? 

VINíCIUS BENEVIDES – O trabalhador carioca é humilhado todos os dias no transporte, as pessoas já chegam estressadas no trabalho. A verdade é que nosso transporte não é público, ele é privado e organizado para atender aos interesses dos milionários donos das empresas de ônibus e não aos passageiros. Esses empresários não estão nem aí para a qualidade de vida do povo, o central é o lucro. Mesmo com subsídios da prefeitura, o transporte é caro e ruim. 

Em uma cidade do tamanho da nossa, a prioridade de transporte de massa tem que ser metrô e trem, os ônibus devem ser auxiliares. Por isso, a UP defende uma profunda reforma em todo o sistema. Primeiro a estatização dos transportes coletivos e a redução da passagem rumo ao transporte gratuito. Se tivermos mais trens e metrôs, a Avenida Brasil funcionará melhor. Com o transporte atendendo os interesses do povo e não dos ricos, conseguiremos reorganizar o trânsito e diminuir os engarrafamentos na cidade. 

COISAS DA POLÍTICA  – O Rio sofre com áreas controladas pelo crime, com roubos e furtos, arrastões etc. O que a prefeitura pode fazer pela segurança pública na cidade? 

VINíCIUS BENEVIDES – Precisamos agir em duas frentes. Primeiro cobrar que o estado do Rio pare com as operações policiais violentas nas favelas. A prova que isso não funciona é que os anos passam e não vemos diminuição na criminalidade, exemplo disso é que 139 crianças morreram baleadas na cidade nos últimos 7 anos na Região Metropolitana.  Andamos na rua com medo de morrer baleado em algum confronto entre policiais e criminosos. É preciso uma ação de inteligência que desarticule o crime organizado. As armas e drogas chegam por meio das estradas, portos e aeroportos, temos que ir na raiz do problema.

Nesse sentido, a prefeitura precisa ter ação enérgica junto aos Governos Estadual e Federal. Sobre os crimes contra o patrimônio das pessoas (roubos e furtos), com certeza diminuirão se conseguirmos fazer um processo de desmonte das facções criminosas, alinhado ao combate de mercado ilegais. 

A segunda questão, onde a prefeitura pode ter um enorme protagonismo é o trabalho com a juventude. Temos que ter políticas públicas que disputem a consciência da juventude. Garantir escola em tempo integral, oportunidades esportivas e culturais, primeiro emprego de qualidade com salário digno. Assim podemos evitar que nossos jovens sejam recrutados pelas facções para cometer esses crimes. 

COISAS DA POLÍTICA  – Você é a favor de armar a guarda municipal e transformá-la em polícia municipal? 

VINíCIUS BENEVIDES – Não. O Rio de Janeiro vive um histórico de 50 anos de operações violentas com a polícia fortemente armada. Resolveu alguma coisa essa política? Não. Por que então daria certo com a Guarda Municipal? A Guarda deve servir para guardar o patrimônio do Rio de Janeiro e ajudar a organizar o fluxo da cidade, não ser uma polícia municipal. Se a PM, com 45 mil policiais, não resolveu até hoje a segurança pública (na realidade, só ajudou a piorar o cenário), não vão ser os 7 mil guardas do Rio que irão resolver. Outra questão é que esse armamento vai servir para reprimir trabalhadores, que como eu muitas vezes só temos o comércio informal como forma de levar comida pra casa.  

COISAS DA POLÍTICA  – A população de moradores de rua, muitos deles usuários de drogas, não para de crescer na cidade. De quem é a culpa? E o que fazer para resolver esta questão? 

VINíCIUS BENEVIDES – A culpa é do Estado brasileiro e do sistema capitalista. Estamos olhando para este problema pelas suas consequências e não a causa. O que causa a miséria de uma pessoa ao ponto fazê-la ir morar na rua e, em alguns casos, se tornar dependente químico? Numa sociedade em que o povo tenha direito a trabalho com salário digno, moradia de qualidade e acesso aos serviços de saúde, não teríamos pessoas em situação de rua. No entanto, o que se acredita é no auto engano promovido pelos governos: expulsar essas pessoas do Centro e fingir que elas não existem. A questão da dependência química se resolve oferecendo atenção de saúde através do SUS a quem precisa. Com tratamentos com comprovação científica para vencer o vício, não com soluções miraculosas ou internações compulsórias. 

COISAS DA POLÍTICA  – Algumas categorias de servidores têm se mostrado insatisfeitas, cobrando reajustes, implantação dos planos de cargos e salários e paridade com outras. Por outro lado, reclamam da máquina administrativa inchada por cargos comissionados. Como resolver o impasse?

VINíCIUS BENEVIDES – Vamos diminuir os cargos comissionados, retomar concursos públicos para todas as áreas da prefeitura para suprir o déficit de servidores. Temos outro problema no serviço público também que é o avanço da privatização. Só ver o caso das OSs da saúde, que contratam trabalhadores com péssimos salários, enquanto ganham milhões da prefeitura. Vamos retomar o controle da saúde pública do Rio e os concursos nessa área também. Além disso, vamos sentar com todos os sindicatos e representantes dos servidores da prefeitura e construir com eles o reajuste e aumento salarial devido dos últimos anos, para recompor todas as perdas salariais, estabelecer as mudanças necessárias no plano de cargos e salários e outras questões dessa ordem. 

COISAS DA POLÍTICA  – Caso sua chapa seja eleita, qual será seu papel ao lado do prefeito? Pretende assumir alguma secretaria? Qual será sua atuação no governo? O que foi negociado?

VINíCIUS BENEVIDES -A chapa da Unidade Popular, comigo e a companheira Juliete Pantoja, não é um projeto individual, mas coletivo de todo o nosso partido e os movimentos que nos apoiam. A construção será toda coletiva. Defendemos a construção do poder popular na nossa cidade, isto é, o estabelecimento de conselhos populares nos bairros para que o povo decida para onde deve ir o dinheiro da cidade. Para que isso se concretize, tanto a nossa prefeita quanto eu, como vice, vamos cumprir um papel de coordenar e organizar a estruturação desses espaços de decisão. A prefeitura tem que ser um espaço onde o povo seja ouvido, não os milionários de sempre.

 

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Jefferson Lemos é jornalista e, antes de atuar no site Coisas da Política, trabalhou em veículos como O Fluminense, O Globo e O São Gonçalo. Contato: jeffersonlemos@coisasdapolitica.com.br
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