Pela primeira vez na história recente, partidos de direita lideram as pesquisas de intenção de voto simultaneamente no Reino Unido, França e Alemanha — as três maiores potências econômicas da Europa. O fenômeno sinaliza uma onda crescente de insatisfação popular, alimentada por anos de imigração em alta, inflação persistente e estagnação econômica.
Desde a pandemia, o continente enfrenta uma combinação explosiva: imigração recorde, inflação elevada e crescimento econômico quase nulo. Redes sociais amplificam a polarização, enquanto eleitores de cidades pequenas e regiões rurais se sentem ignorados pelas elites políticas. “É o mesmo cenário da Inglaterra profunda à zona rural francesa e às cidades alemãs”, diz Jérémie Gallon, ex-diplomata francês.
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Europa em crise: estagnação e polarização
Na França, o partido de direita Reunião Nacional (RN) de Jordan Bardella, jovem sucessor de Marine Le Pen, domina as intenções de voto. Um levantamento da Elabe revelou que Bardella é um dos políticos mais populares do país, com 36% de aprovação. O RN, que já é a maior força na Assembleia Nacional, promete derrubar o governo centrista de François Bayrou em uma votação de confiança marcada para 8 de setembro. Bardella exige novas eleições parlamentares ou a renúncia do presidente Emmanuel Macron.
No Reino Unido, o Reform UK, de Nigel Farage, ex-líder do Brexit, também viu seu partido ultrapassar os Trabalhistas e Conservadores nas pesquisas. A ascensão ocorre em meio a um recorde de imigração legal e ilegal — mais de 4,5 milhões de pessoas chegaram legalmente entre 2021 e 2024, além de dezenas de milhares que cruzaram o Canal da Mancha em embarcações precárias. O primeiro-ministro Keir Starmer enfrenta protestos em cidades inglesas contra o uso de hotéis para abrigar migrantes, enquanto sua promessa de “desmantelar as gangues” de tráfico humano ainda não se concretizou.
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Na Alemanha, o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) superou pela primeira vez o centrista União Democrata Cristã (CDU) nas pesquisas, segundo o instituto Forsa. Curiosamente, o avanço ocorre em meio à queda de 30% nos pedidos de asilo, resultado de políticas mais rígidas do chanceler Friedrich Merz. A economia alemã, porém, continua em recessão — encolheu 0,3% no último trimestre — e medidas de estímulo ainda não surtiram efeito. “Os eleitores veem ação, mas não sentem resultado”, afirma Manfred Güllner, diretor do Forsa.
Direita em forte ascensão
Embora eleições nacionais ainda estejam distantes, o avanço da direita nas maiores economias da Europa promete desencadear uma mudança política profunda nos rumos do continente. “A pergunta que paira sobre o continente: será que centro e esquerda conseguirão reconquistar a confiança dos eleitores — ou já é tarde demais?”