Em pleno terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Brasil assiste a um fenômeno político, no mínimo, irônico: o bolsonarismo — mesmo sem seu líder no poder — atinge seu maior patamar de apoio desde o fim das eleições de 2022. A mais recente pesquisa Datafolha, divulgada nesta quarta-feira (18), revela uma virada histórica: em abril, os que se identificavam com o ex-presidente Jair Bolsonaro eram 31%, e agora já somam 35%; enquanto os petistas, que representavam 39%, caíram para os mesmos 35%.
O crescimento do bolsonarismo não ocorre no vácuo. Ele é alimentado pelo próprio desgaste do governo Lula. A popularidade do presidente segue em queda, como mostram levantamentos recentes. A pesquisa Datafolha de 12 de junho apontou que 40% dos brasileiros avaliam o governo como ruim ou péssimo, enquanto apenas 28% o consideram bom ou ótimo. Já o Ipsos-Ipec, no mesmo período, registrou 43% de avaliação negativa e apenas 25% positiva — o pior índice desde o início do mandato.
Outro fator que mina a imagem do governo é a percepção de promessas não cumpridas. Segundo a pesquisa Genial/Quaest, 70% dos brasileiros acreditam que Lula não está entregando o que prometeu na campanha de 2022. A frustração é ainda maior entre os mais pobres, tradicionalmente base de apoio do petismo.
A segurança pública, pela primeira vez, desponta como a principal preocupação dos brasileiros. De acordo com levantamento da AtlasIntel, 58% apontam a criminalidade como o maior problema do país. A política de desencarceramento e a leniência com facções criminosas são frequentemente citadas por críticos como sinais de um governo que protege o criminoso em detrimento da vítima.
No bolso do cidadão, a realidade também pesa. A inflação dos alimentos corrói o poder de compra, e a tão prometida picanha virou artigo de luxo. O corte bovino acumula alta de 15,6% nos últimos 12 meses, enquanto carnes mais populares, como o acém, subiram até 25%. A promessa de churrasco e cerveja para todos, símbolo da campanha de Lula, se distancia cada vez mais da mesa do brasileiro.
Para completar o cenário de desgaste, o escândalo bilionário de fraudes no INSS ressuscitou o fantasma da corrupção que marcou os governos petistas. A Polícia Federal estima que mais de R$ 6 bilhões foram desviados por meio de descontos indevidos em aposentadorias. O caso já levou à queda do presidente do INSS e reacendeu memórias da Lava Jato, com figuras próximas ao governo sendo citadas nas investigações.
O Brasil, mais uma vez, se vê dividido. Mas agora, com um detalhe inédito: o bolsonarismo cresce não por força própria, mas como reflexo direto do que muitos já chamam de “desgoverno” Lula. E a polarização, longe de arrefecer, parece ter encontrado combustível novo. O país segue em ebulição — e 2026 já começa a se desenhar no horizonte.