Diante da queda de sua popularidade, o presidente Lula deixou de lado as viagens ao exterior e se concentrou em uma turnê de inauguração pelo País, na tentativa de recuperar seu prestígio. Mas diante de um rombo fiscal e sem verbas federais, teve que apelar para as obras realizadas em sua parte ou na totalidade com recursos destinados por Bolsonaro, governos locais ou até mesmo pela iniciativa privada. É o que aponta levantamento feito pela jornalista Sarah Teófilo, do Globo.
Durante as inaugurações, Lula ainda aproveitou o jogo de cena nos eventos para demonstrar apoio a seus candidatos a prefeito nas eleições de outubro, na tentativa de repassar os votos de seus fiéis eleitores. Foi assim no Rio de Janeiro, onde o presidente apoia a reeleição de Eduardo Paes.
Em fevereiro, o presidente participou da inauguração do Terminal Intermodal Gentileza, na Zona Portuária. A obra foi iniciada em 2022. Dos R$ 300 investidos, o governo federal não colocou um centavo. A verba saiu dos cofres da prefeitura. No mesmo mês, Lula também participou da inauguração do Ginásio Educacional Olímpico Isabel Salgado, na antiga Arena Carioca 3. A obras, de R$ 33 milhões, também foram feitas com recursos exclusivos da prefeitura.
Em São Paulo, Lula passou por constrangimento ao inaugurar uma obra inacabada no campus de Osasco da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Anunciada pelo próprio presidente em 2008, só foi entregue agora e mesmo assim sem o auditório, o prédio da biblioteca, a quadra e os anfiteatros que constavam no projeto. O atual governo só aplicou 17,6% dos R$ 102 milhões investidos nas obras.
Ainda em São Paulo, Lula entregou as obras do BRT em Campinas, cuja construção foi iniciada em 2014 e contou apenas com 1,6% dos R$ 380 milhões investidos, enquanto 77,3% da verba foi indicada pelo governo Bolsonaro, entre 2019 e 2022. Na ocasião, Lula ainda tomou para si o mérito da inauguração
“O povo de Campinas tem que saber que essas coisas que foram anunciadas hoje têm dinheiro do governo federal, da Caixa, do BNDES… E vai ter mais. Na hora que tiver projeto contundente, pode saber que o governo federal virá aqui e em outras cidades”, declarou Lula durante a inauguração.
Em Feira de Santana, na Bahia, não foi diferente. Dividindo o palanque com o deputado federal Zé Neto (PT), seu pré-candidato a prefeito da cidade,
Lula anunciou a entrega da duplicação da Rodovia BR-116 em que o atual governo foi responsável por menos de 30% do valor total investido. A maior parte da obra, inclusive, já havia sido entregue na gestão Bolsonaro.
Ainda na Bahia, Lula entregou o Hospital Estadual Costa das Baleias, em maio. Assim como no Rio, a obra custou R$ 200 milhões, mas 100% dos recursos saíram da gestão estadual. Apenas o serviço de radioterapia, que funciona em outro prédio que foi incorporado pelo hospital teve aporte de R$ 12 milhões da União.
O governo federal, por sua vez, alega que as obras inauguradas tiveram investimento, mesmo que pequeno, decisivo para que não se tornassem empreendimentos inacabados ou que integram um pacote que abrange também obras realizadas com recursos da União.