Polícia Civil acusa prefeito de expor servidores à morte para se promover

Jefferson Lemos
Prefeitura do Rio determinou que funcionários públicos retirassem barricadas do tráfico na região de Jardim Sulacap, sem apoio das forças de segurança. Paes confirmou que bandidos apontaram armas na direção deles

A sede de poder teria levado Eduardo Paes (PSD) a expor servidores à morte, após a Prefeitura do Rio determinar que eles retirassem, na cara e na coragem, barricadas do tráfico na região de Jardim Sulacap, sem apoio das forças de segurança. Na ocasião, segundo o próprio prefeito, criminosos armados chegaram a apontar armas na direção dos funcionários públicos.

A acusação endereçada ao prefeito – que segundo vem sendo amplamente divulgado pela mídia deve se lançar candidato a governador em 2026 – foi feita pela Polícia Civil, que sem citar diretamente o nome de Paes, repudiou o fato dele ter feito uso político do incidente ocorrido na Zona Oeste da cidade. O prefeito, aliás, tem sido bastante criticado pela oposição por “lavar as mãos” em questões relacionadas à segurança pública na cidade.

“Se estivesse preocupada com a segurança pública, a Prefeitura teria procurado as forças de segurança, para atuar de forma integrada, visando o bem da população”, diz trecho de uma nota divulgada pela Polícia Civil.

Ironia de Paes gera mal estar entre as forças de segurança

O assunto veio à tona na quarta (29), quando o prefeito postou um vídeo em suas redes sociais dizendo-se surpreso com ofício que recebeu da Coligação de Policiais Civis (Colpol), solicitando a retirada das barricadas que obstruem a via pública próximo à sua sede campestre, na Taquara. Paes ironizou a situação alegando que as forças policiais pediram “segurança” para a prefeitura.

Em resposta, a Polícia Civil criticou as alegações do prefeito, que “tendo ciência de que era área conflagrada, não acionou a Polícia Civil ou Militar, colocando em risco seus servidores apenas para fins político-eleitoreiros, sendo completamente deturpada e maldosa a forma como a situação foi exposta”.

A polícia disse ainda que já realizava planejamento minucioso, com estudo de terreno e análise de informações de inteligência, seguindo todo o processo burocrático exigido pelo STF para a execução de operação para a retirada das barricadas. A operação já estava, inclusive, na iminência de ser deflagrada.

Vereador vai propor Moção de Repúdio contra prefeito

O vídeo postado por Eduardo Paes não repercutiu mal apenas entre as forças de segurança, mas também na Câmara Municipal.  O vereador Poubel (PL),  já avisou que vai propor uma moção de repúdio contra Eduardo Paes “por tamanha irresponsabilidade de enviar servidores a uma área de risco sem avisar às polícias”.

“Lamentável o prefeito colocar em risco a vida de servidores por pensar unicamente nele e seu projeto eleitoral. E, mais uma vez, aplaudo o grande trabalho realizado pelas forças de segurança do Estado do Rio no combate aos criminosos das ruas e dos gabinetes”, afirmou o vereador Poubel.

Fernando Armelau (PL), outro estreante na Casa, também não poupou críticas ao prefeito.

“Eduardo Paes distorce a realidade para criar uma narrativa e enganar a população. Em momento algum foi pedido para a prefeitura fazer segurança. Além de não fazer o seu trabalho como prefeito, que é desobstrução de vias públicas, ele também agiu com desrespeito às forças policiais do Rio de Janeiro ao debochar da segurança pública”, reclamou o vereador Fernando Armelau.

Já o vereador Rogério Amorim (PL) usou suas redes sociais para criticar o prefeito Eduardo Paes (PSD), por ter omitido o fato de que a Colpol pediu a vários órgãos, e não só à Prefeitura, a remoção dos obstáculos à sua sede campestre.

“Paes fez futrica e politicagem”, resumiu Rogério Amorim.

Paes também é alvo de críticas de deputados da Alerj

A  forma como o prefeito conduziu a situação não gerou críticas apenas no Legislativo Municipal. Deputados da Alerj também repudiaram a atitude de Eduardo Paes. Filippe Poubel, líder do PL na Casa, foi um dos que não poupou farpas na língua.

“Agora que quer ser governador, o prefeito do Rio descobriu que existem barricadas na cidade. Além de cínico, mente descaradamente ao dizer que policiais civis pediram segurança à prefeitura. O que foi solicitado é o que a prefeitura não faz, desobstruir via pública. Mas não surpreende vindo desse prefeito fraco e fanfarrão”, afirmou o deputado estadual Filippe Poubel.

Renan Jordy (PL) também condenou a atitude do prefeito.

“O que o Eduardo Paes conhece de segurança pública através da SEOP, sua guarda municipal pretoriana, é bater em camelô e ambulante. Não sabe auxiliar no trabalho de ordem e trabalhar em conjunto com as verdadeiras forças de Segurança Pública do estado, isso por um único motivo: se colocar como candidato a governador do estado em 2026. Infelizmente, o Eduardo Paes é um despreparado que em nada entende de segurança pública e ainda coloca os seus servidores em condições de insegurança total”, disse o deputado estadual Renan Jordy.

As críticas ao prefeito não partiram apenas da bancada do PL.

“Eduardo Paes é hipocrita e sem vergonha. Deveria cuidar do que lhe compete na segurança que é o ordenamento público”, disparou o deputado estadual Rodrigo Amorim (União).

Já o ex-deputado estadual Renato Zaca, que é policial,  lembrou da burocracia que a população que paga IPTU enfrenta hoje em dia se precisar fechar uma rua para  a realização de  eventos comemorativos ou mesmo para o lazer aos domingos ou por questões se segurança, a fim de implantar cancelas. “Tem que ter autorização, tem que ir na região administrativa, tem um bilhão de empecilhos”. Sobre o incidente, Zaca também avaliou que o prefeito quis se promover: “Não pediram para ele acabar com o tráfico, só pediram para ele liberar uma rua, que é atribuição da prefeitura. Se a polícia se negasse a dar apoio, aí sim ele podia reclamar”.

Pelo visto, o tiro de Eduardo Paes acabou saindo pela culatra.

  • Imagem/Thomaz Silva/EBC
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Jefferson Lemos é jornalista e, antes de atuar no site Coisas da Política, trabalhou em veículos como O Fluminense, O Globo e O São Gonçalo. Contato: jeffersonlemos@coisasdapolitica.com.br
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