Um prefeito que não consegue defender estátuas e promete acabar com o crime organizado e defender o povo…

Jefferson Lemos
Hoje, o que deveria ser um museu a céu aberto virou um cemitério de pedestais vazios. Dez esculturas foram furtadas ao longo dos anos (Divulgação)

Enquanto o prefeito Eduardo Paes (PSD) anuncia com pompa a criação de uma força municipal de segurança para enfrentar a criminalidade no Rio, o Passeio Público — berço da arte urbana brasileira e símbolo do patrimônio carioca — agoniza em silêncio. O contraste é gritante: como confiar em uma nova estrutura de combate ao crime do prefeito se ele nem mesmo conseguiu evitar o mero furto de estátuas centenárias em pleno Centro da cidade pode ser evitado?

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Idealizado por Mestre Valentim e inaugurado em 1783, o Passeio Público foi o primeiro parque das Américas. Hoje, o que deveria ser um museu a céu aberto virou um cemitério de pedestais vazios. Dez esculturas foram furtadas ao longo dos anos, entre elas os bustos de Francisco Braga, Júlia Lopes e Raymundo Correia. Outras dez, como a “Fonte do Menino” e os bustos de Castro Alves e Ferreira Araújo, foram recolhidas após vandalismo e estão esquecidas em um depósito municipal.

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A ironia é cruel. O mesmo poder público que promete reforçar a segurança nas ruas não consegue proteger um dos espaços mais simbólicos da cidade. Segundo a Secretaria de Conservação, 40% dos R$ 21 milhões destinados à manutenção do patrimônio em 2024 foram consumidos apenas com reparos de vandalismo. Isso sem contar o abandono visível: mato alto, lixo espalhado, lago seco e estruturas depredadas. A Fonte dos Amores, por exemplo, foi incendiada e hoje serve de banheiro improvisado.

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A proposta de Paes surge em um momento em que a segurança pública desponta como tema central para as eleições de 2026. Mas diante do abandono do Passeio Público, a iniciativa soa mais como oportunismo eleitoral do que como política pública consistente. Afinal, se o poder municipal não consegue proteger nem o legado de Mestre Valentim, como pretende enfrentar o crime?

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O Passeio Público não é apenas um parque. É um espelho da cidade. E, neste momento, o reflexo que ele devolve é o de um Rio de Janeiro onde a memória se apaga, a arte desaparece e a segurança vira promessa de palanque.

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Jefferson Lemos é jornalista e, antes de atuar no site Coisas da Política, trabalhou em veículos como O Fluminense, O Globo e O São Gonçalo. Contato: jeffersonlemos@coisasdapolitica.com.br
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