Falta do que fazer é elogio. Com tiroteios diários, caos na saúde e rombo nos cofres públicos, a Câmara do Rio encontrou tempo — e disposição — para aprovar, em segunda discussão nesta quarta-feira (7), um projeto digno de pegadinha: a criação do Dia da Cegonha Reborn. Sim, você leu certo. Uma data oficial no calendário da cidade para homenagear bonecas hiper-realistas e suas artesãs, chamadas — com toda pompa e circunstância — de “cegonhas”.
A proposta, de autoria do vereador Vitor Hugo (MDB), determina que todo 4 de setembro seja dedicado à celebração dessas bonecas que imitam bebês de verdade. E mais: o texto justifica a medida com passagens que beiram o surrealismo legislativo — exaltando “partos simbólicos”, “maternidades reborn” e até o “renascimento de adultos colecionadores que se tornam papais e mamães de silicone”.
Tudo isso com dinheiro do seu imposto bancando a tramitação, a impressão e o tempo de servidor. Enquanto isso, comerciantes seguem reféns de traficantes na Zona Oeste, a fila do SISREG humilha pacientes e o carioca vive com medo até de sair de casa.
Não há dúvida de que a arte reborn pode ter aplicação terapêutica — em contextos específicos, com acompanhamento clínico. Mas transformar isso em data oficial da cidade, em tempos de crise, é um tapa na cara de quem espera o mínimo de prioridade política.
Se seguir assim, o próximo projeto pode ser o Dia do Urso de Pelúcia. A justifica? Talvez seja uma ferramenta para aliviar o estresse parlamentar.