Entrevista com Paula Falcão (PSTU), vice de Cyro Garcia (PSTU) à prefeitura do Rio

Jefferson Lemos

Dando prosseguimento à série exclusiva com os candidatos a vice-prefeito do Rio, o site COISAS DA POLÍTICA publica neste domingo (1ª) a entrevista com a professora Paula Falcão, candidata a vice de Cyro Garcia em uma chapa puro-sangue do PSTU.

  • Confira amanhã a entrevista com Renata Souza (PSOL), candidata a vice de Tarcísio Motta (PSOL) 

Paula Falcão defende investimento em transporte sobre trilhos e combate à desigualdade contra a violência

Em entrevista exclusiva ao site COISAS DA POLÍTICA, Paula Falcão deixou claro que entende que o modelo carioca de transporte público, que prioriza os ônibus, é ultrapassado e ineficaz. Ela defende o transporte sobre trilhos e a ampliação do metrô como forma de garantir mobilidade para a população. Para conter a onda de criminalidade, ela aposta no combate à desigualdade social, entre outras medidas. Confira este e outros temas a seguir:

COISAS DA POLÍTICA  – Pesquisas mostram que o Rio figura entre as piores cidades do mundo em qualidade de transporte público. Os engarrafamentos são constantes e as pessoas perdem horas no trânsito. Dá para resolver a questão da mobilidade na cidade? A Avenida Brasil tem jeito?

PAULA FALCÃO –  Em nossa opinião é possível sim resolver a questão da mobilidade, no entanto é preciso mudar a lógica de pensar e organizar o transporte na cidade. Hoje o que rege a organização do transporte no Rio é a ganância dos grandes empresários do ramo na busca por lucros cada vez maiores e não a vida dos trabalhadores que moram e utilizam o serviço. Sem enfrentar essa questão não será possível resolver o problema da mobilidade.

Peguemos como exemplo o BRT que também nos ajuda a entender o problema na Avenida Brasil. A saída para a mobilidade urbana numa grande cidade como é o Rio de Janeiro não pode ser o transporte rodoviário. É necessário investir em transporte sobre trilhos. Já existe estudo do BNDES sobre custos para transformar a transcarioca e a Transoeste utilizando as rotas do BRT em transporte sobre trilhos e o custo ficaria em torno de 15 bilhões de reais, isso é perfeitamente possível de ser realizado, o orçamento de nossa cidade vem superando os 40 bilhões por ano.

A malha metroviária da cidade é uma vergonha! Cidades menores possuem muitos quilômetros a mais de linhas de metrô que o Rio. É preciso investimento! Uma parte destes investimentos, talvez a maior parte, tem que vir do estado e da federação. Há dinheiro para isso, se se enfrenta a lei de responsabilidade fiscal que da metade do orçamento para os banqueiros e depois corta gastos em investimento e infraestrutura. Além disso, devemos enfrentar os empresários do transporte, acabando com as concessões, revertendo as privatizações e estatizando as empresas de ônibus, trens, metrôs e barcas. Criando uma empresa municipal de transportes que seja controlada pelos trabalhadores e o povo pobre, os usuários desses transportes.

COISAS DA POLÍTICA  –  O Rio sofre com áreas controladas pelo crime, com roubos e furtos, arrastões etc. O que a prefeitura pode fazer pela segurança pública na cidade?

PAULA FALCÃO – Achamos muito importante diferenciar os tipos de violência, pois existem formas diferentes de combater. Crimes como roubo e furto, em sua maioria, são consequências das desigualdades sociais. Aqui medidas como geração de empregos, construção de moradias populares, investimento nos serviços públicos como educação e saúde, acesso a lazer de qualidade são elementos fundamentais de combate. É preciso oferecer perspectiva para os trabalhadores, em especial para a juventude.

Agora, o Rio sofre demais com o crime organizado e com a disputa em relação ao mercado ilegal de drogas. As facções do tráfico e as milícias disputam os territórios e levam terror a milhões de trabalhadores na cidade, em especial nas zonas norte e oeste. Aqui é preciso ir a raiz dos problemas, ir a fundo na investigação daqueles que lucram com a venda ilegal de drogas. Não é possível a manutenção de todo o aparato do mercado ilegal de drogas sem ajuda de grandes empresários e sem a participação de atores estatais. A própria milícia é um aspecto desse problema, um setor da polícia que intervém nos territórios criando suas próprias regras, é a expressão da degeneração do estado. É notório o poder do crime organizado inclusive na eleição de vereadores, deputados e parlamentares em geral.

E a saída oferecida pelos governos não resolve! As operações policiais nas comunidades só criminalizam o povo pobre, principalmente o povo negro. O governador Claudio Castro, investigado por corrupção, é responsável por 3 das 5 maiores chacinas da história do Rio. Depois dessas ações, o cenário melhorou? Opinamos que não.

Opinamos que desde a prefeitura deve se fazer todos os debates. Apresentamos como saída a legalização das drogas. As drogas, assim como as armas, não são produzidas nas comunidades. É necessário ir na raiz da existência do crime organizado, isso os grandes empresários e os partidos tradicionais do Rio nunca se disporão a fazer, pois ganham com a situação da forma que está. É preciso acabar com as operações policiais nas comunidades!

COISAS DA POLÍTICA  –  Você é a favor de armar a guarda municipal e transformá-la em polícia municipal?

PAULA FALCÃO – Definitivamente não! Isso significa aumentar a repressão contra os trabalhadores, em especial aqueles que estão na informalidade. Os camelôs sabem muito bem sobre as ações truculentas enquanto tentam da forma que conseguem levar o sustento para sua família.

Sobre o policiamento achamos que deve existir uma democratização da polícia. Construir uma polícia única, civil, com direito democrático em se organizar em sindicato e fazer greve. Que os comandantes de polícia sejam eleitos pela população e não indicados pelo governo. A polícia no Rio de Janeiro é uma das que mais matam, mas também a que mais morre. Uma das principais causas de morte entre policiais é o suicídio, pois é obvio que não dar para viver dignamente realizando operações de forma cotidiana.

COISAS DA POLÍTICA  –  A população de moradores de rua, muitos deles usuários de drogas, não para de crescer na cidade. De quem é a culpa? E o que fazer para resolver esta questão?

PAULA FALCÃO – É uma síntese do que apresentamos anteriormente. Uma pessoa viver na rua é uma das expressões mais brutais que a forma de organizar nossa sociedade está errada. Essa não é uma situação particular do Rio, mas de muitas metrópoles pelo mundo, pois essa é a expressão do capitalismo. Em nossa cidade temos cerca de 8 mil moradores de rua, enquanto existem quase 400 mil imóveis vazios, isso não é racional. Parte desses imóveis estão vazios por conta da especulação imobiliária. O atual prefeito Eduardo Paes com seu projeto de “revitalização” da zona portuária é um dos grandes responsáveis por esse cenário.

Sobre os moradores de rua usuários de drogas. Voltamos à tecla da legalização, pois além de tirar esse mercado da mão do tráfico, poderíamos usar os impostos da venda legalizada, e, portanto, controlada, para investir na redução de danos e cuidado com os dependentes químicos. A questão das drogas não pode ser analisada pelos governos desde o ponto de vista moral religioso, mas do ponto de vista da saúde pública.

COISAS DA POLÍTICA  –  Algumas categorias de servidores têm se mostrado insatisfeitas, cobrando reajustes, implantação dos planos de cargos e salários e paridade com outras. Por outro lado, reclamam da máquina administrativa inchada por cargos comissionados. Como resolver o impasse?

PAULA FALCÃO – Sou professora da rede municipal do Rio. Em primeiro lugar, quero me colocar ao lado do conjunto dos servidores que são os responsáveis por atender de forma digna o povo carioca. Os governos de todas as esferas tentam dividir os trabalhadores do setor privado e do serviço público com a intenção de realizar mais ataques aos nossos direitos. Defendo a luta dos servidores por melhores salários e condições de trabalho. As gestões municipais vêm realizando um brutal arrocho salarial ao funcionalismo.

Sim, os cargos comissionados que são cabides de emprego de políticos devem acabar, mas essa não é questão central. O principal problema é que a lógica do orçamento do município é voltado para impedir gastos com serviços públicos de qualidade essenciais à população para transferir o máximo de verba pública para iniciativa privada através de diversos mecanismos como as terceirizações (como são as OSs que administram as unidades de saúde) e parcerias público-privadas. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) limita os gastos com pessoal. O arcabouço fiscal do governo Lula, um novo teto de gastos, não só limita o investimento nas áreas sociais, como promove cortes nos orçamentos dessas áreas.

Defendemos o fim da LRF e do arcabouço fiscal de Lula. Chega de privatizações e terceirizações! O orçamento público deve ser organizado e controlado pelos trabalhadores e pelo povo pobre.

COISAS DA POLÍTICA  –  Caso sua chapa seja eleita, qual será seu papel ao lado do prefeito? Pretende assumir alguma secretaria? Qual será sua atuação no governo? O que foi negociado?

PAULA FALCÃO – Quero deixar bem evidente, nós do PSTU estamos propondo uma nova forma de governar. Defendemos um governo em que os trabalhadores e o povo pobre atuem diretamente na administração da cidade e não sejam apenas observadores. Propomos desde já como organização independente e autônoma dos trabalhadores a construção de conselhos populares por local de trabalho e moradia para que os trabalhadores possam gerir a cidade. Se nossa chapa for eleita, junto com o Cyro meu papel será impulsionar a construção destes conselhos por toda cidade. Achamos que essa forma de organização de colocar a gestão da cidade na mão dos trabalhadores é o que vai possibilitar enfrentar as desigualdades sociais e aplicar as medidas necessárias para garantir os interesses da maioria da população. Não é possível que numa cidade de mais de 7 milhões de pessoas tenhamos 40 bilionários que tem suas riquezas à custa do trabalho de milhões. 

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Jefferson Lemos é jornalista e, antes de atuar no site Coisas da Política, trabalhou em veículos como O Fluminense, O Globo e O São Gonçalo. Contato: jeffersonlemos@coisasdapolitica.com.br
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