Atos contra o Congresso revelam indignação seletiva de artistas e fracasso de público

Jefferson Lemos
A queda expressiva no público sugere que a população começa a diferenciar protesto político de espetáculo cultural, abrindo os olhos para a contradição entre discursos e silêncios (Reprodução)

As manifestações contra o Congresso neste domingo (14) revelaram um contraste gritante: enquanto artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque emprestaram sua voz e prestígio aos atos, permanecem em silêncio diante de escândalos bilionários que atingem aposentados do INSS, desvios no Banco Master e a escalada da violência em todo o País no Governo Lula.

O público dos atos contra o PL da Dosimetria foi menor que nos protestos contra a PEC das Prerrogativas, o que expõe uma indignação coletiva cada vez mais desconfiada do teor ideológico e mais atraída pelos shows do que pela mobilização política.

Os números confirmam essa mudança de cenário. Em Copacabana, no Rio de Janeiro, o ato reuniu 18,9 mil pessoas no pico às 17h, segundo levantamento do Monitor do Debate Político da USP em parceria com a ONG More in Common. Em setembro, no mesmo local, a mobilização contra a chamada PEC das Prerrogativas havia reunido 41,8 mil pessoas.

Em São Paulo, na Avenida Paulista, a concentração foi de 13,7 mil manifestantes às 16h13, bem abaixo dos 42 mil que ocuparam a via três meses antes contra a proposta de emenda constitucional que ampliava mecanismos que garantiam a liberdade de expressão dos parlamentares e a garantia da democracia e da representação popular.

As estimativas foram feitas a partir da análise de imagens aéreas processadas por software de inteligência artificial, metodologia utilizada regularmente pelo Monitor para calcular o tamanho de multidões.

A queda expressiva no público sugere que a população começa a diferenciar protesto político de espetáculo cultural, abrindo os olhos para a contradição entre discursos e silêncios. O risco é claro: quando a indignação se torna seletiva e guiada por ideologia, perde força diante da realidade dos escândalos financeiros e da violência que atinge o cotidiano dos brasileiros.

 

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Jefferson Lemos é jornalista e, antes de atuar no site Coisas da Política, trabalhou em veículos como O Fluminense, O Globo e O São Gonçalo. Contato: jeffersonlemos@coisasdapolitica.com.br
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