Corte do microfone de Lula na ONU foi um ato simbólico

Jefferson Lemos

O corte do microfone de Lula na ONU, neste fim de semana, por ter excedido seu tempo de discurso, mais do que uma mera questão envolvendo os ponteiros de um relógio, teve uma forte conotação simbólica. Durante a abertura da Cúpula do Futuro o presidente criticou a falta de relevância da ONU e de suas instituições, mas falou para um público sem poder deliberativo, já que nenhum dos chefes de Estado dos cinco países membros permanentes do  Conselho de Segurança (Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia, China), que podem vetar qualquer decisão tomada pela Assembleia Geral, estava presente para ouvi-lo. 

Deixando para trás um Brasil em chamas, Lula criticou em Nova York, nos Estados Unidos (EUA), a falta de dinheiro dos países desenvolvidos para mitigar os efeitos do aquecimento global. Enquanto isso, seu governo, internamente, é acusado de incentivar a exploração de combustível fóssil na bacia Amazônica. E também por não ter dimensionado a gravidade dos incêndios no Pantanal e na Amazônia, prejudicando a prevenção de novos focos e resultando na demora para combater o fogo. Pelo menos, em vista disso, parece ter acertado ao falar que o fracasso da ONU é “coletivo”.

Ao mesmo tempo em  que o Brasil luta por um assento permanente no Conselho de Segurança, Lula criticou o próprio conselho por se omitir diante de atrocidades, citando os conflitos na Europa e no Oriente Médio.  “A legitimidade do Conselho de Segurança encolhe a cada vez que ele aplica duplos padrões ou se omite diante de atrocidades”, destacou o presidente, alegando que o Sul Global não está representado de forma condizente com seu atual peso político, econômico e demográfico. O presidente parece ter esquecido que o Brasil enfrenta uma séria crise institucional e, inclusive, hesita em condenar as eleições na Venezuela. 

“É inaceitável regredir a um mundo dividido em fronteiras ideológicas ou zonas de influência”, disse ainda Lula, que não conseguiu reunificar o País após sua eleição e, pelo visto, nem vai conseguir. Por fim, há quem diga que Lula apenas fez um discurso para inglês ver. Mas nem o inglês, como dito antes, estava presente… 

  • Imagem/Reprodução de vídeo

 

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Jefferson Lemos é jornalista e, antes de atuar no site Coisas da Política, trabalhou em veículos como O Fluminense, O Globo e O São Gonçalo. Contato: jeffersonlemos@coisasdapolitica.com.br
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