A destruição de 18 árvores de um quarteirão expõe a incompetência da Enel e da Prefeitura de Niterói para dar fim aos frequentes apagões na cidade e reflete o descaso com o meio ambiente.
As árvores, na Rua Desembargador Ataíde Parreira, no Bairro de Fátima, tiveram suas copas retiradas nesta semana pela concessionária para que seus galhos não encostem na fiação.
A multa de R$ 225 mil aplicada pela prefeitura à concessionária pela poda indevida não esconde a raiz do problema: a falta de fiação subterrânea na cidade.
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O caso mostra o desentrosamento entre poder público e concessionária, responsáveis por garantir a segurança e a eficiência do fornecimento de energia elétrica na cidade.
O vereador Daniel Marques (PL), presidente da Comissão do Ambiente e Direitos dos Animais e defensor da preservação ambiental, foi quem levou o caso à prefeitura.
Ele alertou que a poda deve ser feita por profissionais qualificados, o que segundo ele, não ocorreu.
“O que a Enel chamou de poda, nós chamamos de assassinato de árvores. Isso é mais que uma simples falha, é uma agressão ao meio ambiente e à qualidade de vida da população”.
Os problemas gerados pelos frequentes apagões em Niterói, agravados por ventos que derrubam galhos sobre fios elétricos, têm gerado indignação entre os moradores, não são de hoje.
A chamada poda drástica causa danos às árvores e compromete sua saúde e longevidade. Além disso, compromete a biodiversidade e a beleza paisagística.
Fiação subterrânea não sai do papel
Enquanto a Prefeitura aplica multas e diz buscar na Justiça responsabilizar a Enel por serviços inadequados e pela ausência de fiação subterrânea, a contradição é bem evidente.
Durante as obras de implantação do corredor viário da Região Oceânica, na Estrada Francisco da Cruz Nunes, por exemplo, a própria administração municipal liberou a concessionária de instalar a fiação subterrânea, uma medida que poderia mitigar os problemas causados por quedas de energia, optando por manter os postes.
A implementação da fiação subterrânea em larga escala em Niterói enfrenta desafios como o custo elevado e está envolto em polêmica. A Enel aluga postes para outras concessionárias e operadoras de telecomunicações, como amplamente divulgado pela imprensa.
Este serviço é conhecido como “compartilhamento de infraestrutura” e permite que as operadoras utilizem a infraestrutura de postes para a instalação de seus equipamentos, como cabos de fibra óptica, para a prestação de serviços de telecomunicações.
Jogo de empurra
A falta de entendimento entre as partes sobre a responsabilidade pela poda de árvores agrava cada vez mais a situação.
A Prefeitura alega que a manutenção dos galhos que interferem na rede elétrica é de responsabilidade da Enel, enquanto a concessionária argumenta que depende de autorizações municipais para realizar o serviço.
Esse impasse deixa a população à mercê de apagões prolongados e recorrentes.
Protestos recentes em bairros como Itaipu e Jurujuba refletem a insatisfação dos moradores, que enfrentam quedas de energia de até 48 horas, ou mais.
Em resposta, a Enel anunciou medidas como a reativação de uma base operacional no Centro de Niterói, mas a eficácia dessas ações ainda é questionada.
A falta de planejamento e de uma solução integrada entre Prefeitura e Enel perpetua um ciclo de descaso, onde quem paga o preço é a população.
A instalação de fiação subterrânea e a definição clara de responsabilidades são passos essenciais para evitar que os ventos continuem a apagar as luzes de Niterói.