Tragédia anunciada: moradores denunciam surgimento de nova favela em Petrópolis

Jefferson Lemos

Moradores de Petrópolis denunciam o surgimento de mais uma favela na cidade, fruto da omissão do poder público que permite o crescimento desordenado do município que costuma levar a tragédias como as ocorridas nos últimos anos. A nova comunidade já contrasta com a arquitetura histórica do município. Está situada na entrada da cidade, em frente ao tradicional Palácio Quitandinha, patrimônio tombado pelo Inepac.

A ocupação desordenada de Petrópolis não é de hoje. Levantamento feito pela MapBiomas com base em imagens de satélite e dados do IBGE mostram que a ocupação irregular na cidade mais do que dobrou nas últimas duas décadas. Apenas entre 1985 e 2020 o crescimento das chamadas favelas, invasões e loteamentos irregulares foi de 108,81%. A área ocupada pelas comunidades passou de 198,7 hectares para 414,9 hectares no período, o que mostra que o município não aprendeu a lição com as tragédias de 1988, 2011 e 2013.

Para se ter uma noção da dimensão do problema, o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) apontou que em 2018 mais de 70 mil pessoas já viviam em áreas de risco de desastres naturais em Petrópolis, o que representava 24,4% da população na época.

O resultado não poderia ser outro. Em 2022 Petrópolis sofreu a pior catástrofe de sua história. Um temporal que caiu sobre a cidade por três horas, e outra chuva que caiu alguns dias depois, deixaram mais de 240 mortos e um grande rastro de destruição.

Especialistas lembram que geralmente toda grande favela nasce a partir de uma ou outra residência em locais precários e sem infraestrutura básica, geralmente em áreas de risco de deslizamentos ou alagamentos, que vão se multiplicando sem a chancela de um engenheiro. Para eles, é nessa hora que o município deve intervir realocando as poucas famílias e promovendo o cadastro para o aluguel social, entre outras iniciativas, antes que o problema acabe fora de controle.

Mas geralmente o que ocorre em todo o País é a famosa vista grossa das autoridades. Em troca de votos, candidatos a cargos públicos – os chamados políticos – costumam intervir para levar luz, água e outros serviços para os locais, fazendo crescer a bola de neve.

Até que um dia chove mais forte e acontece uma nova tragédia.

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Jefferson Lemos é jornalista e, antes de atuar no site Coisas da Política, trabalhou em veículos como O Fluminense, O Globo e O São Gonçalo. Contato: jeffersonlemos@coisasdapolitica.com.br
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