Já deu ruim! Falhas na implantação do Jaé deixam passageiros a pé

Jefferson Lemos
Após denúncias, uma operação emergencial foi desencadeada na Zona Sul, com fiscais da Secretaria Municipal de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida e agentes da Guarda Municipal(Reprodução/TV Globo)

A promessa era de modernização, mas o que se viu foi um colapso. Desde o primeiro dia de exigência do cartão Jaé para gratuidade nos transportes municipais do Rio de Janeiro, o sistema apresentou falhas graves na validação dos bilhetes, deixando passageiros, principalmente idosos, sem acesso ao transporte público.

Muitos foram obrigados a pagar passagem ou simplesmente ficaram a pé. Passageiros comuns também enfrentam problemas como saldo incorreto ou erro na leitura.

Para as pessoas com deficiência (PCDs) as dificuldades enfrentadas são ainda maiores. Depois de enfrentarem filas sem estrutura para emissão do cartão, sofrem recusas injustificadas no embarque. Pacientes crônicos da rede pública de saúde e estudantes de baixa renda engrossam a lista de reclamações, que estão bombando nas redes sociais.

Nesta quarta-feira (9), após uma enxurrada de denúncias de descaso, a Prefeitura do Rio finalmente se mexeu. Uma operação emergencial foi desencadeada na Zona Sul, com fiscais da Secretaria Municipal de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida e agentes da Guarda Municipal.

A ação, baseada no Estatuto do Idoso, visa orientar motoristas e garantir o embarque gratuito de quem tem direito. Em Copacabana, agentes chegaram a parar um ônibus que havia ignorado um idoso no ponto.

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Implantação marcada por polêmicas e adiamentos

O cartão Jaé já nasceu envolto em controvérsias. Lançado em 2023, sua implementação foi adiada quatro vezes devido a falhas técnicas, disputas judiciais entre empresas operadoras e falta de integração com o sistema estadual. A promessa inicial era de que o sistema entraria em vigor em julho de 2024, mas só agora, em julho de 2025, começou a valer — e já com problemas.

Durante o período, a empresa responsável pela bilhetagem, CBD Bilhete Digital, foi multada e advertida por descumprimento de contrato e falhas operacionais. A venda da empresa também foi alvo de disputa judicial, o que atrasou ainda mais a transição do Riocard para o Jaé.

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Impacto direto na população mais vulnerável

A situação é especialmente crítica para os idosos, que enfrentam dificuldades para obter o cartão, filas intermináveis nos postos de atendimento e problemas com o aplicativo. Muitos relatam noites sem dormir e desorganização nos locais de retirada.

A Prefeitura afirma que mais de 1,1 milhão de gratuidades já foram cadastradas, mas os relatos de falhas continuam.

A operação desta quarta-feira – desencadeada na Zona Sul, vitrine da cidade – parece mais uma tentativa de conter o desgaste político do que uma solução definitiva. Com a obrigatoriedade do Jaé para todos os passageiros prevista para 2 de agosto, a cidade corre contra o tempo para evitar que o caos se torne rotina.

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Jefferson Lemos é jornalista e, antes de atuar no site Coisas da Política, trabalhou em veículos como O Fluminense, O Globo e O São Gonçalo. Contato: jeffersonlemos@coisasdapolitica.com.br
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