De cúpula à reunião de condomínio: esvaziamento do Brics expõe desprestígio de Lula

Jefferson Lemos

🗞️ A tão aguardada Cúpula do Brics, que acontece entre os dias 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro, corre o risco de se transformar em uma reunião protocolar sem o peso político que se esperava. Com as ausências confirmadas dos presidentes Xi Jinping, da China, e Vladimir Putin, da Rússia — os dois principais líderes do bloco —, o encontro perde força e simbolismo, justamente no momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta desgaste político interno e isolamento diplomático crescente do Ocidente.

Lula se afasta das democracias, perde influência global e enfrenta impopularidade interna, diz’The Economist’

A ausência dos principais líderes é vista por analistas como um sinal de enfraquecimento de sua capacidade de articulação internacional, frustrando a imagem de liderança regional que o Brasil pretendia reafirmar. Ainda que diplomatas tentem minimizar os impactos, o esvaziamento do encontro escancara o fato de que Lula não goza do prestígio nem da confiança irrestrita de seus pares estratégicos.

Desprestígio internacional! Como a diplomacia e as gafes de Lula já custaram bilhões ao Brasil

🇨🇳 A ausência de Xi Jinping é considerada a mais simbólica derrota para a diplomacia brasileira. Em maio, Lula esteve em Pequim para reforçar pessoalmente o convite ao líder chinês e chegou a afirmar publicamente que Xi estaria presente no evento. A confirmação de que o premiê Li Qiang liderará a delegação chinesa, sem justificativa oficial para a ausência de Xi, frustrou o Planalto.

Analistas apontam que o desconforto pode ter se acentuado após a visita de Lula à China, marcada por um episódio controverso: a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, teria causado constrangimento ao criticar o TikTok — plataforma chinesa — durante um jantar com Xi e sua esposa, Peng Liyuan.

🇷🇺 Putin, por sua vez, não virá ao Brasil por razões jurídicas. O presidente russo é alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI), do qual o Brasil é signatário. A presença dele em solo brasileiro poderia obrigar o país a cumprir a ordem de prisão, o que geraria uma crise diplomática sem precedentes. O chanceler Sergei Lavrov representará a Rússia presencialmente.

📉 O esvaziamento da cúpula ocorre em um momento delicado para Lula, que enfrenta críticas internas por sua condução econômica, queda de popularidade e derrotas no Congresso Nacional. No plano internacional, a revista The Economist destacou recentemente que o presidente brasileiro perdeu influência global e se afastou de aliados ocidentais, ao mesmo tempo em que não conseguiu consolidar novas alianças estratégicas.

🌐 Com a ausência dos principais chefes de Estado, temas centrais como a reforma do Conselho de Segurança da ONU e a desdolarização das economias emergentes devem perder protagonismo. A expectativa de uma declaração conjunta robusta também se esvanece diante das divisões internas e da falta de consenso entre os membros.

O que deveria ser o ápice da presidência brasileira no Brics corre o risco de se tornar um evento esvaziado, com pouco impacto prático e simbólico. Para muitos observadores, a cúpula no Rio de Janeiro será lembrada menos pelas decisões tomadas e mais pelas ausências que falaram mais alto do que qualquer discurso.

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Jefferson Lemos é jornalista e, antes de atuar no site Coisas da Política, trabalhou em veículos como O Fluminense, O Globo e O São Gonçalo. Contato: jeffersonlemos@coisasdapolitica.com.br
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